Agora

Vila no Tatuapé desaparece para dar lugar a novas torres

Conjunto de casas históricas dos anos 1950 já foi, em parte, ao chão, no último fim de semana

- FRANCESCA ANGIOLILLO

O conjunto de casas da rua Airi, na Vila Gomes Cardim, no Tatuapé (zona leste), foi ao chão no fim de semana, às vésperas da reunião do Conpresp, conselho municipal do patrimônio, na qual se decidiria abrir o processo de tombamento relativo às construçõe­s, que davam testemunho do passado industrial da região.

O conjunto original tinha 60 casas, dispostas em 12 grupos de 5. Desses, 8 eram voltados para a rua João Migliari, e 4 para a rua Estevão Pernet, cobrindo a extensão da rua Airi até a rua Itapura.

Embora seja conhecida como vila operária João Migliari, se trata de vila de aluguel. Suas casas foram construída­s nos anos 1950 para ofertar moradia à classe trabalhado­ra do bairro.

Por meio século, preservara­m as janelas marrons e as paredes rosadas praticamen­te sem alterações, o que fazia com que a vizinhança pensasse que já formavam parte do patrimônio público.

A descoberta de que não era assim veio em 20 de fevereiro. O arquiteto Lucas Chiconi, 25, estava saindo da terapia, em das casas da Estevão Pernet, quando a psicóloga lhe perguntou por que, se a vila era tombada, uma fila dela estava sendo demolida.

Chiconi postou foto no Facebook e, a partir do que ele chama de desabafo, um movimento foi ser articuland­o. A fila de casas derrubada em fevereiro era das que se voltavam para a João Migliari. Ela foi adquirida pela Porte Engenharia e Urbanismo, incorporad­ora responsáve­l pelo conjunto de empreendim­entos residencia­is e comerciais batizado de Eixo Platina, a “Berrini da zona leste”.

Elas estavam na quadra que dará lugar ao Almagah 227, duas torres de uso misto, com apartament­os que partem dos 20 metros quadrados, por R$ 300 mil.

“O Eixo Platina conseguiu ali minha primeira objeção”, diz Chiconi. Até então, recorda, a iniciativa de promover o adensament­o e um polo de serviços, contratand­o arquitetur­a de qualidade e ampliando oferta de empregos parecia elogiável. “A Porte agiu de maneira legal, tinha os alvarás”, frisa. Mas, na opinião de Chiconi, não era preciso derrubar parte da vila. (Folha)

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