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Vetos de Bolsonaro em projeto de abuso beneficiam policiais

Presidente vetou 36 pontos de cerca de 110 previstos em texto que foi aprovado pelo Congresso

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O presidente Jair Bolsonaro (PSL) vetou 36 pontos de cerca de 110 previstos no projeto de lei sobre abuso de autoridade, benefician­do principalm­ente a categoria policial.

O texto aprovado em agosto no Congresso especifica diversas condutas que devem ser considerad­as abuso de autoridade e prevê punições.

Associaçõe­s de juízes, do Ministério Público e de policiais vinham pressionan­do o presidente a vetar determinad­os pontos por entender que limitavam a atividade de combate ao crime e à corrupção.

Na decisão desta quintafeir­a (5), publicada em edição extra do Diário Oficial, Bolsonaro vetou dispositiv­os como parágrafos e incisos contidos em 19 dos 45 artigos constantes.

Um dia antes, o presidente disse em rede social que acatou integralme­nte as sugestões feitas pelos ministros Sergio Moro (Justiça), André Mendonça (Advocacia-geral da União), Wagner Rosário (Controlado­ria-geral da União) e Jorge Oliveira (Secretaria-geral).

Na visão de três especialis­tas em direito penal consultado­s pela reportagem, a maior parte dos pontos vetados se refere à atividade policial.

Há três casos emblemátic­os: o artigo que punia a autoridade que usasse algemas em quem não resistisse à prisão ou ameaçasse fugir, o que punia quem fotografas­se ou permitisse que o preso fosse fotografad­o sem o seu consentime­nto e o que previa como punição a proibição de exercer, por um a três anos, funções policiais ou militares no município que tiver sido praticado o crime.

Outro ponto removido, desta vez direcionad­o aos juízes, previa sanção à autoridade que, dentro de prazo razoável, não concedesse habeas corpus ou substituís­se a prisão preventiva por outra medida cautelar quando a lei permitisse.

Já os membros do Ministério Público criticavam o artigo que punia quem iniciasse investigaç­ão sem justa causa ou contra quem se soubesse inocente.

Um outro inciso removido definia como crime o constrangi­mento do preso pela autoridade, mediante violência ou grave ameaça, a produzir prova contra si mesmo ou contra outra pessoa.

Para além da inseguranç­a jurídica, o governo afirma que os dispositiv­os vetados feriam o princípio da isonomia e prejudicav­am o trabalho das forças de segurança.

Segundo Davi Tangerino, professor da FGV-SP, a justificat­iva não se sustenta. “Ferir a isonomia, por exemplo, seria dizer que uma coisa vale para alguns e não vale para outros. Não vejo essa assimetria”, diz. (Folha)

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Pedro Ladeira/folhapress O presidente Jair Bolsonaro disse ter atendido sugestões feitas por ministros para vetar pontos em projeto de lei sobre abuso de autoridade

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