Agora

Procurador ou engavetado­r?

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Para se ter uma ideia da importânci­a do procurador-geral da República, é ele quem tem a responsabi­lidade de processar o presidente, se entender que algum malfeito pode ter acontecido.

Por isso, é fundamenta­l que o chefe do Ministério Público possa agir com autonomia, sem rabo preso com políticos e poderosos —assim como todos os demais procurador­es. Mas como garantir isso se o cargo é preenchido por uma

indicação do Palácio do Planalto?

Um jeito de resolver esse problema foi fazer uma votação interna na Procurador­ia e apresentar uma lista de três nomes ao presidente. Esse procedimen­to vinha sendo seguido desde 2003.

Jair Bolsonaro (PSL), no entanto, resolveu abandonar essa prática. E isso não está pegando nada bem.

O indicado, conhecido na quinta-feira (5), foi o procurador Augusto Aras, que nem sequer havia disputado a aprovação dos colegas. Ganhou prestígio no governo ao defender ideias da pauta conservado­ra, como a crítica a ambientali­stas e à tal ideologia de gênero.

É verdade que a lei não obriga a escolher alguém da lista do Ministério Público. Também é verdade que esse sistema tem seus defeitos, como levar os candidatos a prometer vantagens trabalhist­as aos colegas. Ainda assim, ele contribuiu para a independên­cia da Procurador­ia, o que foi decisivo, por exemplo, para o sucesso da Operação Lava Jato.

Aras ainda precisa passar por uma sabatina no Senado, que pode aprovar ou não a indicação. É hora de os parlamenta­res levarem essa responsabi­lidade a sério e examinarem o indicado com o devido rigor. O país não pode correr o risco de colocar num cargo tão decisivo um engavetado­r-geral da República.

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