Governo cassa aposentadoria de servidor que ficou milionário
O governo João Doria (PSDB) demitiu a bem do serviço público e cassou a aposentadoria do ex-chefe dos presídios do estado de São Paulo que teve a fortuna revelada pela Folha.
De acordo com o Diário Oficial de sábado (7), o exservidor Hugo Berni foi demitido por, entre outros motivos, infringir leis que citam lesar os cofres públicos e receber ou solicitar propinas. A reportagem revelou, em 2015, que Berni, então responsável por todos os presídios da região metropolitana, havia acumulado patrimônio que poderia chegar à casa dos R$ 20 milhões.
Segundo a apuração, ele se associou à irmã durante dois anos em uma empresa imobiliária —que saiu quase do zero e construiu casas em condomínios de alto padrão de Sorocaba (99 km de SP) avaliadas em mais de R$ 7 milhões, equivalentes a 32 anos de seu salário. Além disso, mantinha em andamento as obras de um condomínio inteiro, com 24 casas, que poderiam alcançar R$ 15 milhões. Berni negou, na ocasião, que os bens tivessem origem ilegal.
Ele foi afastado pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB) logo após a publicação da reportagem. Uma investigação sobre a atuação de Berni foi aberta.
Como coordenador de 28 unidades prisionais, cargo de confiança do então secretário de Segurança Lourival Gomes, Berni era o responsável pelos contratos com as empresas que forneciam alimentos e outros serviços. Auditoria da Corregedoria Geral da Administração constatou que as empresas da família do exchefe dos presídios fizeram negócios com fornecedoras da Secretaria da Administração Penitenciária.
A reportagem apurou que a auditoria identificou negócios das empresas da família de Berni com ao menos cinco firmas que venceram licitações da secretaria. Quatro delas são fornecedoras de alimentos para prisões e uma é da área de material de construção.
Berni conseguiu se aposentar. No entanto, após o fim da investigação, foi decidido que deveria ser demitido a bem do serviço público e, por isso, ter a aposentadoria cassada. De acordo com Diário Oficial, entre as razões da punição estão artigos que citam “lesar o patrimônio ou os cofres públicos”; “receber ou solicitar propinas, comissões, presentes ou vantagens de qualquer espécie”; e “pedir, por empréstimo, dinheiro ou quaisquer valores a pessoas que tratem de interesses ou o tenham na repartição, ou estejam sujeitos à sua fiscalização”.
Berni não foi localizado nesta segunda (9). Na ocasião da publicação da primeira reportagem, ele afirmou que sua vida pública não se misturou com a privada e que se defenderia no momento oportuno. (Folha)