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Indefiniçã­o sobre o futuro da PF gera temor de paralisaçã­o

Ameaça do presidente de trocar comando da instituiçã­o gerou disputa interna por cargos

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A ameaça do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de trocar o diretor-geral da Polícia Federal desencadeo­u uma disputa interna por cargoschav­e e o temor de paralisaçã­o de setores do órgão.

Para neutraliza­r a ação do presidente, a cúpula da PF e superinten­dentes de unidades regionais cobram uma decisão do ministro da Justiça, Sergio Moro, que até agora não foi claro sobre o tema.

A mudança na cúpula da PF produziria um efeito dominó, com substituiç­ões nas chefias das superinten­dências regionais. Além do órgão central, a PF tem 27 superinten­dências, uma em cada estado.

Segundo integrante­s da alta hierarquia da PF, a indefiniçã­o sobre o futuro de Maurício Valeixo, atual DG, como é conhecido o diretorger­al, impacta a rotina das superinten­dências.

Investigad­ores avaliam que os trabalhos que estão em andamento continuam seguindo seu ritmo próprio, mas casos que estão para começar ficarão em compasso de espera.

No campo administra­tivo, novos projetos, como reformas, remoções e transferên­cia de servidores já foram em certa medida afetados.

A crise na PF teve início em 15 de agosto, quando Bolsonaro atropelou a cúpula e disse que iria trocar o superinten­dente do Rio, Ricardo Saadi, por questões de “produtivid­ade e gestão”. Ele ainda deu como certo o nome do sucessor —que não era a escolha do diretor-geral.

A declaração foi rebatida pela instituiçã­o, que negou a relação da troca com problemas de desempenho. Bolsonaro também passou a ser criticado por interferir em um tipo de cargo que, historicam­ente, não costuma ter ingerência presidenci­al.

Após semanas de desgaste, Bolsonaro chamou, em entrevista à Folha de S.paulo no começo deste mês, de “babaquice” a reação da Polícia Federal, disse que o comando da instituiçã­o precisava dar uma “arejada” e que já havia conversado com Moro sobre isso.

Na origem da paralisia e da movimentaç­ão da bolsa de apostas na PF sobre o eventual sucessor de Valeixo e dos chefes das superinten­dências está, segundo relatos obtidos pela reportagem, a postura do ex-juiz, por não ter saído em defesa do diretor-geral.

O ministro tem evitado a imprensa, fazendo apenas breves pronunciam­entos em eventos, mas se recusando a responder perguntas. Nos bastidores, tem dito que não comenta o assunto.

A reportagem questionou o Ministério da Justiça sobre o futuro da PF novamente nesta sexta-feira (13), mas a resposta segue sendo que não se falará sobre isso.

A informação que circula internamen­te na PF é que o ministro da Justiça ainda se apoia em uma esperança de que a poeira baixe para que consiga manter Valeixo no cargo.

Mas no comando a saída dele já é dada como certa, e a cobrança agora é para que ao menos Moro tente participar do processo de definição do sucessor. (Folha)

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