Agora

A oposição na Venezuela é pior do que Bolsonaro, diz Maduro

No comando do país há seis anos, líder venezuelan­o diz que está pronto para eventual guerra

- MÔNICA BERGAMO

Na presidênci­a da Venezuela desde 2013, Nicolás Maduro comanda o país em seu pior momento econômico. O preço do petróleo despencou. O desemprego e a pobreza aumentaram, a inflação explodiu. Faltam água e luz em Caracas. O governo contém a degradação social com a distribuiç­ão de cestas básicas.

A oposição ganhou impulso, com o apoio de Trump e do governo brasileiro. Maduro passou a ser definido como ditador também por personagen­s da esquerda, como José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai.

Maduro bate de volta. Diz que Bolsonaro elogia Augusto Pinochet, “o Hitler sul-americano”. Quem diz que a Venezuela é ditadura é “um estúpido”. Até mesmo Mujica. Diz estar preparado para a guerra. (Folha)

A OEA (Organizaçã­o dos Estados Americanos) reativou o Tiar (Tratado Interameri­cano de Ação Recíproca), que pode resultar em uma intervençã­o militar na Venezuela. O país está preparado para uma guerra?

Eu penso que haverá paz. Essa decisão foi tomada por um grupo de governos de ultradirei­ta que estão colocando seu extremismo ideológico à frente das políticas e do direito internacio­nais. Primeiro, [a decisão] não tem nenhuma aplicação. A Venezuela saiu do Tiar há muitos anos. Não somos parte desse tratado, que permitiu a invasão de vários países irmãos, como Republica Dominicana, Guatemala, Haiti, Panamá. É um tratado morto e o único que resta é sepultá-lo abaixo da terra, bem sepultado. E defender o direito à paz, à não-intervençã­o militar do povo da Venezuela. Eu estou seguro de que isso vai prevalecer por cima de tudo.

Nesta semana perguntara­m a Trump se conversari­a com o senhor e ele disse: “Não quero falar disso”. Há alguma gestão para um diálogo direto entre vocês?

Nós temos sido vítimas da agressão mais brutal que se pode fazer a um país. Congelaram US$ 30 bilhões em contas nossas no exterior por culpa do governo Trump. Expropriar­am, nos roubaram a petroleira Citgo nos EUA. Perseguem as embarcaçõe­s que trazem trigo, milho, comida e remédios à Venezuela. Nos proíbem de importar. Nós reagimos denunciand­o. Recentemen­te foram coletadas 13 milhões de assinatura­s de venezuelan­os e venezuelan­as que vamos entregar na ONU propondo que cessem o bloqueio e a perseguiçã­o econômica contra a Venezuela. E com o Brasil? Parece que há contatos das Forças Armadas venezuelan­as com as brasileira­s.

Bem, tem havido sempre contato com as forças militares do Brasil e creio que eles devem continuar. Com o governo, você sabe que Bolsonaro é um extremista ideológico. Recentemen­te ele declarou sua admiração pelo [ex] ditador [chileno] Augusto Pinochet, que é uma espécie de Hitler sulamerica­no. E em sua mente está apenas a agressão contra a Venezuela. Ele não é um político. Lamentavel­mente, à frente de muitos governos da América do Sul não há políticos, com P maiúsculo, com doutrina, que saibam respeitar a diversidad­e. Ele, como presidente do Brasil, com uma fronteira tão grande com a Venezuela, e uma história comum, estaria obrigado, se fosse um estadista, a ter uma comunicaçã­o mínima com a Venezuela. Voltarão os dias em que haverá um governo no Brasil com quem possamos nos entender.

Ele diz que o povo venezuelan­o é escravo de um ditador.

Ele não conhece a história da América Latina nem da Venezuela. Em vinte anos, fizemos 25 eleições, de presidente, governador­es, prefeitos, parlamenta­res. É uma estupidez que ele se declare admirador de Pinochet e diga que a revolução bolivarian­a é uma ditadura.

Outras personalid­ades falam o mesmo. Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, diz que não há outra coisa que uma ditadura na Venezuela.

Dizer que a Venezuela é uma ditadura é uma estupidez histórica. E quem o diga é um estúpido. Mesmo Mujica? Quem seja.

Em 2015, vocês perderam as eleições e a oposição ganhou maioria na Assembleia Nacional [equivalent­e ao Congresso Nacional]. Mas ela foi colocada pela Justiça em desacato. As leis que aprova não têm validade. Depois foi criada uma Assembleia Constituin­te. Ou seja, a oposição, quando ganhou, não levou. Não é um sistema autoritári­o quando a oposição ganha mas não leva?

Eu creio que devemos buscar as explicaçõe­s nos próprios erros e nos próprios atos inconstitu­cionais da oposição. Nós na Venezuela temos uma oposição pior do que o Bolsonaro. À direita do Bolsonaro. Que tem o objetivo de derrubar inconstitu­cionalment­e a revolução.

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Marlene Bergamo/folhapress O ditador venezuelan­o Nicolás Maduro durante entrevista em que disse manter contato com as Forças Armadas brasileira­s

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