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Para Collor, Bolsonaro ganharia se tirasse ideologia do governo

Senador refuta a ideia de novo impeachmen­t e critica a influência dos filhos do presidente

- RICARDO DELLA COLETTA

BRASÍLIA O senador e expresiden­te Fernando Collor de Mello (Pros-al), 70 anos, disse à Folha de S.paulo que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) “ganharia muito se retirasse o aspecto ideológico da construção das suas linhas de governo”.

Collor criticou a política externa conduzida por Bolsonaro e a retórica agressiva adotada pelo mandatário ao se referir a alguns líderes internacio­nais. “Meu Deus! É algo que me deixa assustado.”

Alvo de um processo de impeachmen­t em 1992 que o levou a renunciar ao Palácio do Planalto, o ex-presidente disse que a influência dos filhos de Bolsonaro no governo é ruim para a administra­ção e se disse preocupado com a falta de base de apoio de Bolsonaro no Congresso. “Ou se tem essa maioria ou não se governa”, afirma.

Collor argumentou ainda que, sem essa sustentaçã­o no Parlamento, Bolsonaro pode enfrentar “seríssimas dificuldad­es”. “Eu não diria um impeachmen­t, mas seríssimas dificuldad­es que não saberia se ele [Bolsonaro] teria condições de superar”. (Folha)

No início do seu mandato como presidente, também havia uma pressão sobre o Brasil pela preservaçã­o da Amazônia. Como avalia a resposta do governo Bolsonaro à crise ambiental atual?

Eu lidaria [com a crise] de forma diferente. A melhor forma de se tratar civilizada­mente questões que se colocam na relação entre países é o diálogo, deixarmos a diplomacia dos nossos países atuarem. O sr. considera que a política ambiental do governo Bolsonaro tem uma visão ideologiza­da sobre o assunto?

Acredito que o governo ganharia muito se retirasse o aspecto ideológico da construção das suas linhas de governo em relação a temas importante­s, sobretudo os que colocam como debatedore­s a comunidade internacio­nal. Acho que precisaria haver uma maior moderação e retirar o componente ideológico das decisões. Cada vez que se coloca a questão ideológica você divide.

O presidente Bolsonaro pode vir a sofrer um impeachmen­t por não ter base no Parlamento?

Eu acho que a palavra impeachmen­t ficou um pouco corriqueir­a no Brasil. Não sem justificad­as razões, porque já foi empregado duas vezes num período muito curto. Eu não diria um impeachmen­t. Mas eu diria seriíssima­s dificuldad­es, que não saberia se ele [Bolsonaro] teria condições de superar.

Recentemen­te o vereador Carlos Bolsonaro escreveu que por vias democrátic­as a transforma­ção que o Brasil quer não ocorrerá na velocidade desejada. Como vê a influência do núcleo familiar de Bolsonaro no governo?

Prejudica. Estamos notando claramente que esse núcleo familiar é indissociá­vel. O que qualquer integrante do núcleo familiar fala, a população entende como uma fala do presidente. Obviamente isso prejudica.

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André Coelho/folhapress O ex-presidente Fernando Collor de Melo criticou crise na Amazônia sob gestão Bolsonaro

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