Para Collor, Bolsonaro ganharia se tirasse ideologia do governo
Senador refuta a ideia de novo impeachment e critica a influência dos filhos do presidente
BRASÍLIA O senador e expresidente Fernando Collor de Mello (Pros-al), 70 anos, disse à Folha de S.paulo que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) “ganharia muito se retirasse o aspecto ideológico da construção das suas linhas de governo”.
Collor criticou a política externa conduzida por Bolsonaro e a retórica agressiva adotada pelo mandatário ao se referir a alguns líderes internacionais. “Meu Deus! É algo que me deixa assustado.”
Alvo de um processo de impeachment em 1992 que o levou a renunciar ao Palácio do Planalto, o ex-presidente disse que a influência dos filhos de Bolsonaro no governo é ruim para a administração e se disse preocupado com a falta de base de apoio de Bolsonaro no Congresso. “Ou se tem essa maioria ou não se governa”, afirma.
Collor argumentou ainda que, sem essa sustentação no Parlamento, Bolsonaro pode enfrentar “seríssimas dificuldades”. “Eu não diria um impeachment, mas seríssimas dificuldades que não saberia se ele [Bolsonaro] teria condições de superar”. (Folha)
No início do seu mandato como presidente, também havia uma pressão sobre o Brasil pela preservação da Amazônia. Como avalia a resposta do governo Bolsonaro à crise ambiental atual?
Eu lidaria [com a crise] de forma diferente. A melhor forma de se tratar civilizadamente questões que se colocam na relação entre países é o diálogo, deixarmos a diplomacia dos nossos países atuarem. O sr. considera que a política ambiental do governo Bolsonaro tem uma visão ideologizada sobre o assunto?
Acredito que o governo ganharia muito se retirasse o aspecto ideológico da construção das suas linhas de governo em relação a temas importantes, sobretudo os que colocam como debatedores a comunidade internacional. Acho que precisaria haver uma maior moderação e retirar o componente ideológico das decisões. Cada vez que se coloca a questão ideológica você divide.
O presidente Bolsonaro pode vir a sofrer um impeachment por não ter base no Parlamento?
Eu acho que a palavra impeachment ficou um pouco corriqueira no Brasil. Não sem justificadas razões, porque já foi empregado duas vezes num período muito curto. Eu não diria um impeachment. Mas eu diria seriíssimas dificuldades, que não saberia se ele [Bolsonaro] teria condições de superar.
Recentemente o vereador Carlos Bolsonaro escreveu que por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não ocorrerá na velocidade desejada. Como vê a influência do núcleo familiar de Bolsonaro no governo?
Prejudica. Estamos notando claramente que esse núcleo familiar é indissociável. O que qualquer integrante do núcleo familiar fala, a população entende como uma fala do presidente. Obviamente isso prejudica.