Agora

Supremo começa a julgar ações que podem beneficiar 5.000

Reavaliaçã­o sobre prisão após segunda instância inicia hoje e pode livrar o ex-presidente Lula

- REYNALDO TUROLLO JR.

BRASÍLIA O plenário do STF (Supremo Tribunal Federal) inicia nesta quintafeir­a (17) um dos julgamento­s mais esperados dos últimos anos, que deve dar uma resposta definitiva sobre a constituci­onalidade da prisão de condenados em segunda instância.

Desde 2016, a jurisprudê­ncia do STF autoriza a execução provisória da pena antes de esgotados os recursos nos tribunais superiores.

Uma mudança hoje teria potencial de beneficiar 4.895 réus que tiveram a prisão decretada após serem condenados em segundo grau, de acordo com dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) divulgados nesta quarta-feira (16).

Nos últimos dez anos, o plenário do Supremo enfrentou esse tema ao menos cinco vezes, na maioria delas ao analisar casos concretos de pessoas condenadas —o último foi o do expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva, preso mais célebre da Operação Lava Jato.

Agora, o tribunal vai julgar o mérito de três ações que tratam do assunto de maneira abstrata, sem estar atrelado a um determinad­o réu —embora a sombra do petista permaneça sobre a corte.

Lula, preso em Curitiba desde abril de 2018, é um dos que podem se beneficiar com uma eventual mudança de entendimen­to.

Como nas ocasiões anteriores, o Supremo está dividido: há ministros que defendem a prisão em segunda instância e ministros que entendem que é preciso esperar o trânsito em julgado (o fim de todos os recursos).

No meio, há uma proposta feita ainda em 2016 pelo ministro Dias Toffoli, hoje presidente da corte, de permitir a execução da pena após o julgamento do recurso no STJ (Superior Tribunal de Justiça), que é considerad­o uma terceira instância.

Pela ideia de Toffoli, Lula, em tese, não seria beneficiad­o no caso do tríplex de Guarujá (SP).

O STJ já manteve a condenação do petista, em abril deste ano, fixando a pena em oito anos, dez meses e 20 dias de prisão.

Guerra de números

Com a disputa de visões em curso, uma guerra de números esquentou o debate.

O CNJ divulgou o levantamen­to de potenciais beneficiad­os por uma mudança na jurisprudê­ncia a fim de rebater dados divulgados pela imprensa, no início desta semana, que indicavam que até 190 mil presos poderiam ser soltos, por terem recursos pendentes.

Entre os 190 mil, porém, a grande maioria também tem prisão preventiva decretada —para não pôr em risco o processo ou para não voltar a delinquir, por exemplo— e não seria solta.

Do outro lado, voltou a circular um estudo realizado pelo STJ em 2018 que mostra que só 0,62% dos recursos julgados naquela corte consegue reverter condenaçõe­s de segunda instância e absolver os réus —número citado pelos que defendem a manutenção da jurisprudê­ncia atual.

A sessão desta quinta será iniciada com a leitura do relatório das ações pelo ministro Marco Aurélio.

Falarão a Procurador­iageral da República, a AGU (Advocacia-geral da União), os autores das três ações e os amici curiae (amigos da corte, em latim). A expectativ­a é que se estenda por três ou quatro sessões. (Folha)

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