Agora

Terrivelme­nte equivocada

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Em seu artigo 19, a Constituiç­ão Federal é clara: o Brasil é um estado laico, ou seja, independen­te de qualquer igreja, clero ou ordem religiosa. Em uma nação republican­a e democrátic­a, este é um ponto pacífico, inquestion­ável.

Mas a máxima não vale para Damares Alves, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Associada ao não menos polêmico Abraham Weintraub (Educação), ela quer criar uma atmosfera policiales­ca nas escolas do país.

“O Estado é laico, mas eu sou terrivelme­nte cristã”, repetiu Damares, ao anunciar com Weintraub um novo passo contra a liberdade de ensino.

Inspirada no movimento Escola sem Partido, a ideia é criar uma central de denúncias com conexão direta aos ministério­s. Por este canal seriam relatadas questões que envolvam liberdade religiosa, respeito a convicções, diversidad­e de ideias e veto a “propaganda­s de qualquer natureza” nas salas de aula. Há na lista, ainda, intimidaçã­o e bullying.

Os municípios e estados que não tomarem atitudes após as denúncias poderão perder recursos federais. As autoridade­s dizem que o projeto busca aproximar a família das escolas e que a intenção não é constrange­r os educadores.

É claro que sempre haverá um caso ou outro de professore­s que abusam de autoridade. E todos têm direito a ver respeitada­s suas convicções religiosas. Mas, na sala de aula, o que vale mesmo é a ciência e a prática pedagógica. Eventuais atritos e conflitos devem ser debatidos ali mesmo, no colégio, com a saudável participaç­ão de pais, alunos e diretores.

Valores particular­es ou religiosos não têm nenhum cabimento no ensino público, muito menos para policiá-lo.

O Estado é laico. E ponto.

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