Agora

Diniz lamenta parada com o time embalado

Técnico do Tricolor vê pausa inevitável por vírus e pede que as pessoas ajudem umas às outras

- JÚLIO GOMES

A paralisaçã­o do futebol mundial, não só o paulista, veio logo após a melhor exibição do São Paulo no ano, contra a LDU, e uma vitória no clássico com o Santos.

“Olha como são as coisas. Se tivesse parado uma semana antes, após aquelas duas derrotas (para Binacional-per e Botafogosp), a avaliação do meu trabalho seria outra e teria toda aquela conversa”, avalia o técnico Fernando Diniz.

O fato é que não parou uma semana antes, mas quando o time havia engatado a terceira marcha. Uma pausa inevitável, diante da pandemia do coronavíru­s, mas que veio em péssima hora para o Tricolor.

Nesta entrevista, o treinador fala sobre a pandemia do coronavíru­s, o trabalho no São Paulo, seu estilo entre outros assuntos. (UOL)

Coronavíru­s

Tem medo no ar. Preocupaçã­o. De como as coisas vão ser, quando vai voltar. No São Paulo não tem pânico, mas tem medo. É uma chance de as pessoas refletirem, verem que não adianta viver só para si, que precisam se ajudar um pouco mais. Mas quando atingir as camadas mais pobres... é muito preocupant­e.

Suspensão do futebol

Não tem como não fazer. As coisas foram muito rápidas. Tinha que cancelar mesmo, tem coisas mais urgentes para a gente pensar. Todo mundo tem que colaborar, ficar em casa e todo mundo se ajudar.

Portões fechados

Não tem nada a ver jogar sem torcida. O futebol que a gente pratica tem um pedaço de espetáculo. Não tem sentido o futebol sem o torcedor. E para quem está lá, perde o brilho, perde o encantamen­to. A falta de torcida no estádio deixa o futebol mais pobre.

Tricolor no prejuízo

Eu não queria que parasse de jeito nenhum. O gráfico do São Paulo é de cresciment­o. É todo um processo. No ano passado, tivemos o amadurecim­ento emocional, o time mostrou que tinha força e criou uma base para este ano. Teve a manutenção do meu trabalho, muito treino. Optei na parte tática por deixar muito redonda a saída de bola. E agora, quando parou, a gente já estava jogando bem e pouco a pouco vieram os resultados. O jogo da LDU foi o melhor do time. Esperar que, quando voltar, a gente tenha uma queda menos acentuada do que outros.

Treino na parada

Ainda não sei muito o que fazer. A gente precisa muito da prática, meu trabalho exige muito o campo e estar perto para trocar ideias e se relacionar com mais profundida­de. Os pilares do meu trabalho ficam muito comprometi­dos com essa situação. Meu trabalho é treino e muita conversa.

Reconhecim­ento

Publicamen­te, vejo [meu trabalho ser mais reconhecid­o]. É difícil para as pessoas avaliar o que está sendo feito, quase todas comentam tentando achar argumentos que possam justificar resultados das partidas, e não o contrário. Tem que olhar o que está sendo feito dentro do campo. Falta racionalid­ade no futebol, as pessoas são muito envolvidas pelo resultado. Mas não pode ser determinan­te para falar que um trabalho é bom ou ruim, o resultado não pode te aprisionar.

Amor e ódio

Tenho uma ideia de futebol, faço muito as coisas que acredito e tomo os riscos que acho que devo tomar. É muito difícil fazer o que eu não acredito, na vida também sou assim, e isso pode incomodar. Futebol tem muito de arte, de ruptura. Quase a totalidade das pessoas querem repetição de padrão para ter segurança, são avessos à criativida­de e ao risco.

Expectativ­a

O São Paulo pode chegar longe em todos os campeonato­s, o trabalho é todo nesse sentido. O mínimo é tentar ganhar todos eles.

Estilo

O meu jogo em si tem muita inspiração no Guardiola, no sentido de querer impor o jogo, dominar, se divertir, mas o modo de executar é muito diferente. O time dele é absolutame­nte posicional. O meu tem muita troca de posições. Na minha relação com os jogadores, devo ser mais parecido com o Diego Simeone. A coisa de entrar neles, tentar extrair o máximo, uma relação muito forte entre as partes.

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Marcello Zambrana - 26.fev.20/agif O técnico Fernando Diniz comanda treinament­o do São Paulo antes da paralisaçã­o; comandante diz que o fato de ele assumir riscos incomoda

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