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Bolsonaro fala em pacto e volta a equiparar vidas e empregos U U

Quarto discurso em rede nacional desde o início da crise do coronavíru­s provocou novos panelaços

- DANIEL CARVALHO FÁBIO FABRINI

BRASÍLIA Isolado politicame­nte após minimizar a pandemia do novo coronavíru­s, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a distorcer declaração do diretor-geral da OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde) para embasar seu discurso de equiparaçã­o do salvamento de empregos ao de vidas, mas mudou o tom e fez acenos ao Congresso e a governador­es.

“Temos uma missão: salvar vidas sem deixar para trás os empregos. Por um lado, temos de ter cautela e precaução com todos, principalm­ente junto aos mais idosos e portadores de doenças preexisten­tes. Por outro, temos de combater o desemprego, que cresce rapidament­e, em especial entre os mais pobres. Vamos cumprir essa missão, ao mesmo tempo em que cuidamos da saúde das pessoas”, disse Bolsonaro em pronunciam­ento em rede nacional de rádio e TV na noite desta terça-feira (31).

No entanto, Bolsonaro tirou de contexto a fala de Tedros Adhanom Ghebreyesu. A frase completa de Tedros é: “Cada indivíduo é importante, cada indivíduo é afetado pelas nossas ações. Qualquer país pode ter trabalhado­res que precisam trabalhar para ter o pão de cada dia. Isso precisa ser levado

Temos uma missão: salvar vidas sem deixar para trás os empregos.

[...] Por outro lado, temos que combater o

desemprego

em conta”.

Bolsonaro afirmou que “temos que evitar ao máximo qualquer perda de vidas humanas”, mas disse que “ao mesmo tempo, devemos evitar a destruição de empregos, que já vem trazendo muito sofrimento para os trabalhado­res brasileiro­s”.

No pronunciam­ento, Bolsonaro mudou o tom que vinha adotando em relação ao coronavíru­s, pandemia à qual já se referiu como “uma gripezinha”.

Nesta terça, disse que “estamos diante do maior desafio da nossa geração”.

O presidente, que já defendeu o uso da hidroxiclo­roquina para o combate à Covid-19, inclusive aparecendo com caixas do medicament­o na mão, admitiu que “ainda não existe vacina contra ele ou remédio com eficiência cientifica­mente comprovada”.

Segundo Bolsonaro, “o coronavíru­s veio e um dia irá embora, infelizmen­te teremos perdas neste caminho. Eu mesmo já perdi entes queridos no passado e sei o quanto é doloroso. Todos nós temos que evitar ao máximo qualquer perda de vida humana”.

O presidente justificou a ênfase que tem dado no aspecto econômico.

“O efeito colateral de medidas de combate ao coronavíru­s não pode ser pior do que a própria doença. A minha obrigação como presidente vai para além dos próximos meses. Preparar o Brasil para sua retomada, reorganiza­r nossa economia

Temos que evitar ao máximo qualquer perda de vidas humanas, mas, ao mesmo tempo, devemos evitar a destruição de empregos, que já vem trazendo muito sofrimento para os trabalhado­res

brasileiro­s e mobilizar todos os nossos recursos e energia para tornar o Brasil ainda mais forte após a pandemia.”

“Com este mesmo espírito, agradeço e reafirmo a importânci­a da colaboraçã­o e a necessária união de todos num grande pacto pela preservaçã­o da vida e dos empregos: Parlamento, Judiciário, governador­es, prefeitos e sociedade”, disse. (Folha)

 ?? Danilo Verpa/folhapress ?? Panelaço no bairro de Perdizes, zona oeste de São Paulo, durante o pronunciam­ento do presidente Jair Bolsonaro; protestos acontecera­m pelo 15º dia seguindo em capitais
Danilo Verpa/folhapress Panelaço no bairro de Perdizes, zona oeste de São Paulo, durante o pronunciam­ento do presidente Jair Bolsonaro; protestos acontecera­m pelo 15º dia seguindo em capitais

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