Suspeitas familiares
Nos 28 anos em que foi deputado federal, Bolsonaro fez pouco. Tirando os surtos autoritários, ele atuou de forma apagada como típico integrante do baixo clero da Câmara —aquela fatia de representantes voltada para os pequenos interesses e não raro envolvida em troca de favores, ou coisa pior.
Uma reportagem publicada pelo mostrou que o atual presidente se mantinha bastante ocupado com o próprio gabinete na época. Uma análise de documentos desse período mostrou que cerca de um terço dos mais de cem assessores do deputado Bolsonaro passou por uma intensa rotatividade salarial.
Chamam a atenção as várias demissões seguidas de recontratações. De um dia para o outro, assessores tinham salários dobrados, triplicados e até quadruplicados —e logo em seguida reduzidos a menos da metade.
O vaivém não foi explicado, o que levou a oposição a suspeitar de apropriação ilegal de verba —inclusive porque Flávio Bolsonaro (Republicanos-rj), filho de Jair, é investigado por um esquema do tipo na Assembleia Legislativa do Rio.
Nove dos assessores de Flávio que tiveram seu sigilo bancário quebrado pela Justiça trabalharam anteriormente para seu pai na Câmara. Deles, ao menos seis tiveram variações de salários.
Exemplo revelador é o de Marselle Marques, que trabalhou entre 2004 e 2005 no gabinete de Jair Bolsonaro. Começou com salário de R$ 261 e após três meses já ganhava o dobro. Em um ano, recebia R$ 6.011. Três meses depois, perdeu 90% desse valor.
É difícil comprar que tantas conexões possam ser coincidência. Resta esperar para ver se o presidente saberá explicar o que ocorria em seu gabinete de deputado.