Atores confessam paranoias na quarentena
olhar para dentro de nós mesmos e de nossas relações, têm muito a ver com os dias atuais.
“Tudo fica muito misturado. Estamos há mais de cinco meses nessa loucura [da pandemia]. A gente olha para dentro da gente. Nesse tempo todo a gente refez nossos caminhos, repensamos, piramos, conversamos sobre diversos temas, dos desejos, do futuro próximo. E, claro, colocamos em prática esse episódio de ‘Amor e Sorte’. Descobrimos que somos imbatíveis e maravilhosos como casal”, conta a atriz.
E até mesmo os cachorros do dois darão uma ponta no episódio. Partiu deles mesmos a ideia de incluir os animais, algo que foi incentivado pelas autoras Adriana Falcão e Jô Abdu. Ambos também pintaram uma tela especialmente para o episódio. O capítulo promete emocionar, como diz o idealizador do projeto, Jorge Furtado. “O humor é uma espécie de cura para a cabeça e nos ajuda a não enlouquecer.”
E as funções com câmera alimentaram uma vontade dos dois de trabalhar mais por trás dos holofotes. Fabiula já teve a chance de ser assistente de direção durante um de seus filmes rodado pelo Tocantins e agora gosta da ideia de seguir esse caminho. “Queremos fazer um documentário com os velhinhos do nosso condomínio sobre a história de vida deles. Empolgamos”, relata Fabiula.
Mais episódios
A série terá outros três episódios —com histórias independentes e atores e autores diferentes. Serão tramas que envolvem os casais da vida real e também mãe e filha. Tudo para que a dramaturgia continue inédita na emissora e que ninguém tenha de contracenar com outras pessoas.
“A ideia surgiu da necessidade de inventar. Lembrei que têm vários atores que estavam quarentenados juntos por serem casados ou por serem família. É um jeito de enfrentar esse momento com mensagem positiva de histórias que falam desse momento triste, mas ao mesmo tempo com esperança”, reforça o supervisor de texto da série, Jorge Furtado.
Lázaro Ramos e a esposa, Taís Araujo, vivem um casal confinado que, ao divergir sobre uma questão ideológica, chega a uma grande discussão matrimonial turbinada pelos nervos à flor da pele.
Caio Blat e Luisa Arraes protagonizam outro episódio com texto deles próprios e de Jorge Furtado que fala sobre um relacionamento que começa exatamente quando as pessoas precisam entrar em confinamento.
Em outro, o episódio em que Dantas e Fabiula protagonizam a história de um casal que caminha para o divórcio quando o isolamento começa. As autoras Jô Abdu e Adriana Falcão têm em comum séries de sucesso no currículo como ‘A Grande Família’.
E há ainda um quarto episódio que juntará mãe e filha em uma história. Na trama, as cenas são protagonizadas por Fernanda Montenegro e Fernanda Torres, mãe e filha na vida real. Ambas precisam lidar com o isolamento e seus fantasmas do passado. O texto é de Antônio Prata.
A quarentena dos atores Emilio Dantas e Fabiula Nascimento tem sido agitada. De acordo com o casal, as conversas e o tempo livre antes da gravação possibilitaram momentos únicos.
“Um dia começamos a ver luzes às 3h na Pedra da Gávea [no Rio de Janeiro] e achamos que eram extraterrestres. Fomos pesquisar e descobrimos que eram pessoas com lanternas. Olha só. Tivemos muito tempo para ir da tristeza à loucura, do medo às gargalhadas”, afirma Fabiula.
Já Dantas também conta ter tido suas paranoias. “Certa vez eu fui buscar uma comida e dei um soquinho na mão do entregador. E a partir daquele momento eu pirei. Quase chorei. Pensei: ‘por que eu fiz isso’”, conta ele, referindo-se ao alastramento do contágio da Covid-19.
Além disso, o ator conta que durante algum tempo resgatou o figurino de um antigo personagem para ir à rua. “Por dois meses os vizinhos me viram sair de casa vestido como Beto Falcão [cantor de axé da novela ‘Segundo Sol’, Globo, 2018]. Ele tinha vários macacões que cobriam até o pescoço e com mangas longas. Era perfeito para sair de casa com aquilo”, diverte-se.
Fora as neuras, os dois contam que conseguiram evoluir como um casal. Tanto pela quarentena e pela convivência por mais tempo, quanto pela oportunidade de trabalhar juntos e serem pioneiros numa série feita totalmente remota.
“Agora estamos mais abertos a conversar dentro do universo um do outro. O mais difícil é tentar lembrar o cérebro que não estamos em condições normais, que passamos por fase na qual não devemos nos cobrar coerência ou crítica, medos e anseios”, diz Dantas.
Para Fabiula, tem sido complicado ficar longe de familiares e de amigos. Mas o jeito é segurar a barra e torcer para tudo passar logo, afirma a atriz.
“Na pandemia um dia estamos grandes e no outro estamos pequenos, e assim vamos nos equilibrando. Não podemos achar que tudo está normal.” (LVO)