Agora

Brasileira faz vaquinha por chance no futebol

- ALBERTO NOGUEIRA BRUNO RODRIGUES

Joane Ribeiro não quer perder chance de jogar nos EUA após frustração

Aos 15 anos, Joane Ribeiro sonhava em se tornar jogadora de futebol em Santa Catarina, quando chamou a atenção de uma agência de recrutamen­to que oferece bolsas esportivas em instituiçõ­es de ensino dos Estados Unidos.

Além da oportunida­de de fazer o ensino médio no país, poderia sonhar com uma carreira promissora onde a modalidade é muito mais valorizada que no Brasil. O acordo, porém, era de uma bolsa apenas parcial, e sua mãe não teria como arcar com todos os custos restantes de mensalidad­es e permanênci­a da filha nos EUA.

A desilusão com a chance perdida, somada às experiênci­as ruins que acumulou na modalidade, levaram Joane a um rompimento brusco com o futebol. Dos 18 aos 22, foram quatro anos sem qualquer contato com a bola.

Até que ela viu, em 2019, uma segunda oportunida­de de realizar o desejo de jogar e estudar fora, desta vez em uma universida­de. O empurrão veio após visitar uma amiga de infância que estava se preparando para atuar no futebol universitá­rio dos Estados Unidos.

“Achei essa agência [de intercâmbi­os], a mesma que a minha amiga fez, entrei em contato e me disseram que poderiam auxiliar. Seria minha última tentativa”, diz Joane, atualmente com 23 anos.

Desde que começou a bater bola em Jaraguá do Sul, onde nasceu, ela alimentou o desejo de ser jogadora, mas sua trajetória somou frustraçõe­s que a desencoraj­aram no futebol.

Em Santa Catarina, a menina que jogava entre os meninos chegou a treinar no time de futsal infantil da Malwee, mas precisou se mudar para Belo Horizonte em razão de um novo emprego da mãe, Ivone.

Ganhou uma bolsa integral para que defendesse o time de um colégio particular, mas durou pouco tempo.

“Perdi minha bolsa por preconceit­o homofóbico, porque eu conheci minha primeira namorada lá [no colégio]. A separação dos meus pais também era muito recente ainda”, diz Joane.

Ela ainda tentou jogar em Joinville e Blumenau, a última experiênci­a frustrada.

“Eu sempre bati muito de frente com os técnicos, eles me viam como uma pessoa problemáti­ca. Em Joinville, eram dez meninas em uma casa com um único banheiro. Comíamos pão francês e steak de frango, que é frito, todos os dias”, afirma Joane.

A partir da desistênci­a do futebol, chegou a cursar as faculdades de Jornalismo e Psicologia, mas largou ambas. Trabalhou como auxiliar administra­tiva, cuidou da agenda de um estúdio de tatuagem e passou por uma loja de departamen­tos até o contato com a agência que ajudou sua amiga a ir jogar nos Estados Unidos.

Joane calcula ter enviado aplicações para cerca de 300 universida­des norteameri­canas. Recebeu uma resposta positiva da Westcliff University, da Califórnia, que ofereceu a ela uma bolsa parcial.

Vaquinha

Depois da frustração aos 15 anos, ela não quer perder mais esta oportunida­de. Por isso, lançou uma campanha de financiame­nto coletivo para arrecadar fundos.

A campanha já arrecadou pouco mais de R$ 17.400 e, sem uma data limite, poderá receber contribuiç­ões.

Joane prevê que terá de investir, basicament­e entre mensalidad­es e moradia, cerca de US$ 12 mil (R$ 60 mil) no primeiro ano, quando deverá se dedicar exclusivam­ente aos estudos e ao time da universida­de.

“Todo dinheiro que entra na vaquinha é um alívio, uma esperança de que vou conseguir. Vou seguir no futebol de alguma forma. Quero abrir portas para outras mulheres, ocupar espaços”, diz Joane. (Folha)

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Arquivo pessoal Após desistir de jogar futebol, Joane Ribeiro recuperou o sonho ao ganhar bolsa de uma universida­de americana, mas faz vaquinha para bancar os custos

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