Agora

Rita Lee lança mais 2 livros infantis e diz não ter ânimo para fazer lives

Obras falam do meio ambiente: ‘Crianças apreciam quando adultos dizem a verdade, por mais triste que seja’

- WALTER PORTO

“No ar que eu respiro, eu sinto prazer”, cantou ela um dia. Agora que está tudo contaminad­o, Rita Lee conta que anda “com uma tristeza que dói na alma”. Longe de um final feliz, hoje ela se “congela ao assistir a esse filme de horror que está acontecend­o no mundo”, em especial no Brasil. São tempos cruéis, mesmo para uma mulher que está acostumada com uma espécie de quarentena rural já faz oito anos.

O escape dessa escritora cada vez mais engajada tem sido a via literária. Escrever “é ato solitário que me deixa leve”, Rita conta em entrevista. “Gosto de me sentar diante do meu velho ipad e soltar o santo.”

Duas obras infantis da roqueira saem agora, totalizand­o já cinco contos da chamada Vovó Ritinha para esse público, em reedições atualizada­s de obras que a cantora lançou entre os anos 1980 e 1990. As novas publicaçõe­s se somam desde o ano passado à autobiogra­fia best-seller e aos despojados “Dropz” e “Favorita”.

Para as crianças, ela adota sempre uma proposta gritante de conscienti­zação ambiental. “A raça humana tem se comportado com nossa nave mãe Terra como esse vírus maldito, pondo em risco todas as formas de vida, inclusive a si própria”, diz ela, ecoando alertas do líder indígena Ailton Krenak. “E isso é uma sacanagem com as crianças, que vão herdar um planeta doente.”

Ela reconhece que há algo de educadora nesse trabalho. “Quanto antes a criançada ficar ciente das barbaridad­es que acontecem na natureza pelas mãos dos adultos de hoje, tanto melhor.”

Os livros que saem agora, curtinhos, simpáticos e meio alucinados, miram denúncia de queimadas, roubo de pedras semiprecio­sas e usinas nucleares incrustada­s num paraíso litorâneo pelos malvados Reis de Angra.

Dos minileitor­es, tem recebido retorno enfático. Rita diz que ficam interessad­os em saber por que os adultos permitem que tragédias contra o meio ambiente aconteçam sem que ninguém faça nada.

“Crianças sacam e apreciam quando adultos dizem a verdade, por mais triste que seja. Mostre a elas o fogo consumindo milhares de árvores, conte a elas que os animais —que sentem dor e medo, como a gente— são tratados como coisas”, se inflama a vovó roqueira de 72 anos. “E, se você reclama do confinamen­to, pense nos animais dos zoológicos do mundo.”

A ela, o isolamento não parece incomodar. Afinal, está cuidando mais de si entre bichos soltos e plantas para dar e vender. Só um ponto a incomoda. “A primeira coisa que quero fazer quando essa primeira grande guerra mundial biológica acabar é dar uns amassos nos meus filhos e netos.”

Quarentena produtiva

Rita está sozinha no sítio, ela diz, com um namorado que a “aguenta há 43 anos”. Ao lado de Roberto de Carvalho, ela também tem escrito muita música. “Roberto e eu temos uma coleção de inéditas e caseiras que daria para fazer três discos. Nós deixamos o palco, mas a música da dupla continua firme e forte.”

Depois de milhares de lives por aí, parece que agora só falta Rita. Mas ela afirma que, mesmo tendo adorado ver Milton Nascimento, Gil e Caetano na TV —“realmente me deram um quentinho na alma”—, dar uma canja ela mesma está fora de questão, por falta de produção e de ânimo. Mas quem sabe um belo dia ela resolva mudar. (Folha)

Dr. Alex e o Phantom e Dr. Alex e os Reis de Angra Rita Lee. Globo Livros. Preço por cada livro: R$ 48 (32 págs. cada um). Ilustraçõe­s Guilherme Francini e Quihoma Isaac, respectiva­mente.

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Guilherme Samora/divulgação Rita Lee não entrou na onda dos shows online, mas está compondo novas músicas: ‘Daria para fazer três discos’

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