Assumi o risco da rejeição a Bolsonaro, diz Russomanno U
Candidato à Prefeitura, deputado se recusou a falar sobre debates e disse que vai ao 2º turno
Líder da corrida à Prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno (Republicanos) disse à reportagem que já tinha precificado o ônus do apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) à sua candidatura e indicou ter certeza de que disputará o segundo turno.
O deputado federal e apresentador de TV, que tenta pela terceira vez ser prefeito, afirmou não se preocupar com os níveis de rejeição a ele e a seu padrinho. Ele disse descartar a hipótese de sofrer fritura do grupo do presidente.
Com 27% de intenções no Datafolha, ele está à frente do candidato à reeleição, Bruno Covas (PSDB), com 21%. O índice dos que não votam de jeito nenhum nele subiu de 21% para 29%.
Russomanno se recusou a responder sobre denúncias envolvendo o presidente e sua relação com a Igreja Universal, durante a entrevista na sexta(16). (Folha)
Após a repercussão de sua fala de que há relação entre a falta de banho de moradores de rua e a resistência ao coronavírus, o sr. disse que houve um uso político da afirmação. Mas é um tema político, não?
CELSO RUSSOMANNO - Pinçaram o que falei, não o contexto inteiro. Quando veio a pandemia, todo mundo achava que ia pegar em cheio os moradores de rua, e não aconteceu. Eu perguntava: a ciência tem que explicar, temos muito que estudar em relação à Covid.
O sr. também questionou por que na aglomeração da periferia não houve tantos casos como o esperado. Isso não é minimizar a pandemia?
Não estou minimizando, estou dizendo que o poder público errou nas atitudes que tomou.
Mas 150 mil mortes
Não acho pouco, acho muito. Mas todo mundo achava que ia ser muito mais. Sinto pelas famílias.
Se achavam que ia ser mais, o poder público agiu corretamente, não?
Não. Nós quebramos o país. O país, não, mas São Paulo e o estado de São Paulo estão quebrados. Tinham as contas em ordem e estão quebrados. A prefeitura vai perder R$ 2 bilhões [de arrecadação]. Precisamos voltar a gerar empregos.
Em março, o sr. deu uma declaração de que, por causa do risco, o certo era que as escolas fechassem. Mudou de opinião?
Não mudei. Agora a gente tem o quadro da pandemia. Sabemos como criar proteções para evitar ou tentar evitar o contágio, e agora está ficando difícil para as crianças e para as mães.
A sua proposta é determinar o retorno imediato das escolas?
A minha proposta é, com segurança, obedecendo à OMS, fazer o que tem que ser feito: retomar a economia. Os pais precisam trabalhar.
Houve aumento na rejeição ao seu nome, e Bolsonaro tem rejeição de 46% em SP, segundo o Datafolha. Isso o preocupa?
Não. Nós conversamos bastante [apontando para o marqueteiro Elsinho Mouco]. Pode falar. [Elsinho diz: “A rejeição do Bruno caiu, e ele não assumiu o padrinho, [o governador João] Doria, que é rejeitado. Todas as pesquisas dizem: a rejeição do Lula, Doria e Bolsonaro é altíssima. E foi uma opção: nós já apresentamos o padrinho, o aliado, de cara. Assumimos o risco de ter rejeição. Mas não estamos olhando pela rejeição, e sim pela aceitação”.
O sr. está assumindo o risco da rejeição?
É isso.
Há um histórico de aliados dele que foram fritados e se afastaram. O sr. não teme entrar na máquina de moer do governo?
Olha, nós somos amigos desde 1995. Amigos de verdade. Não tenho preocupação nenhuma com isso.
Aliados seus enfrentam problemas, como é o caso de Marcelo Crivella, no Rio, e Bolsonaro, com as questões das rachadinhas, caso Queiroz, cheques para a primeira-dama.
Isso não é assunto. Desculpa. Vamos voltar?
O sr. vai pular desse barco em algum momento?
Desculpa, desculpa. Em primeiro lugar, isso não é problema da cidade de São Paulo. E nem vou discutir esse assunto [Celso Russomanno repete a frase quatro vezes].
Por que se recusa a discutir?
Eu não me recuso. Não vou discutir. Essa é uma questão que não afeta a minha eleição.
Em que momento surgiu a ideia do auxílio paulistano, que não está no plano de governo?
Estamos fazendo a adequação e deve ser apresentado [o plano atualizado]. Eu discutia [com Bolsonaro] a questão da negociação da dívida, e ele me disse que era possível, que já tinha feito a do Rio, aí surgiu a ideia. Precisamos de recursos para São Paulo. É uma promessa de campanha que será cumprida. Diga-se de passagem, [diziam] “não tinha recurso, o Celso é um maluco”, e agora o Bruno vai fazer?
Em quanto tempo vai conseguir fazer a renegociação?
Eu dependo de assumir para poder fazer, então espera eu assumir.
Mas o voto é baseado em perspectiva.
Não posso te dizer em quanto tempo, fazer isso é uma inconsequência. Isso depende da máquina do governo federal e da máquina da prefeitura.
O seu eleitor vota no sr. ou no presidente Bolsonaro?
Você está subestimando a urna eleitoral.
Por quê?
Sou eu que vou estar lá.
O sr. é o candidato da Igreja Universal?
Essa questão religiosa não diz respeito à administração pública. Mas recebo com bons olhos os apoios de todas as igrejas cristãs [ele diz ser católico]. Sou presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Liberdade Religiosa, que vai da umbanda até qualquer religião. Religião é linha de conduta do ser humano. Às vezes tem pessoas que você diz assim: “Ah, a pessoa não comete crime por quê?”. Porque tem uma religião, não importa qual. Todas pregam o amor ao próximo.
O sr. disse em 2012 que não conhecia o bispo Edir Macedo. E hoje, o conhece?
Esse assunto para mim está encerrado. Não vou discutir religião.
O sr. não está disposto a ir aos debates?
Estou aqui debatendo com vocês. E com todos os jornalistas.
O sr. então não tem medo de debater?
Me diga quando eu não debati.
No debate da Cultura [ele disse que não comparecerá].
Você é que está dizendo.
No da Folha/uol o sr. avisou que não vai.
Eu vou em debate no segundo turno. Todos. Todos.