No dia do médico, profissionais relatam turbilhão com a Covid U
Levantamento de sindicato mostra que 265 profissionais morreram com a doença em todo o país
Aprendizado e medo marcam agora a história dos médicos que atuam no atendimento aos pacientes com Covid e sobreviveram à pandemia. Pelo menos 265 deles, segundo levantamento nacional do Simesp (Sindicato dos Médicos de São Paulo), não poderão contá-la.
Para este dia do médico, a reportagem conversou com profissionais que reaprenderam a trabalhar na pandemia.
“Estamos tentando cicatrizar as feridas”, diz Giovana Mara Manzari Pascoal, 37, que em março foi convidada a trabalhar em hospitais de campanha em Guarujá (SP) e Santos, onde também atendeu no Complexo Hospitalar da Zona Noroeste.
Giovana ainda está em tratamento para um câncer de mama descoberto em 2017. Ciente de que sua vida estaria em risco, aceitou a missão de atender pacientes com Covid.
“Quando fiquei doente, troquei o jaleco de médica pelo avental de paciente. Então, eu sabia o que essas pessoas estavam sentindo. A pandemia me fez mais resiliente, passei a acreditar na importância da força de vontade e minha fé ficou mais valorizada. Espero que as pessoas pensem mais no coletivo”, afirma Giovana.
Desafio
Rita de Cássia Guimarães Firmino, 60, também deixou de lado o jaleco e passou a paciente, mas de Covid-19.
Diabética e hipertensa, a médica clínica foi contaminada pelo novo coronavírus no início da pandemia.
Os primeiros sintomas foram falta de ar, cansaço e febre baixa. Como havia tomado a vacina contra o vírus Influenza H1N1, associou os sintomas a uma reação vacinal.
A tomografia constatou a lesão no pulmão compatível com a causada pela Covid-19. A médica que atendeu Rita prescreveu medicação e recomendou que ficasse em casa.
A piora veio três dias depois. Levada ao hospital, foi constatada a baixa saturação e, a equipe decidiu entubá-la. Foram quase dois meses internada, sendo 25 dias em coma induzido. “Fiquei muito grave. Meus amigos disseram que eu quase vi a luz branca.”
O mineiro de Varginha Rodrigo Prado, 27 anos e formado há dois, também teve a experiencia da Covid em primeira mão. Apos sentir dor no corpo, coriza, perda de olfato e um incômodo na pele, recebeu o diagnóstico há 45 dias —ele já se recuperou.
“A gente faz medicina para melhorar a vida das pessoas. Quando veio a pandemia, começamos a olhar por outro lado. Era impossível ajudar sem se expor ao vírus”, disse. (Folha)
Rita de Cássia Guimarães,
60 anos, médica