Agora

Leitura compartilh­ada

Repaginado­s por causa da pandemia, clubes do livro ganham adeptos com reuniões virtuais; encontros sobre literatura divertem e provocam reflexão

- VITOR MORENO

Mesmo com muita gente afastada de amigos e parentes por causa da pandemia, a leitura não precisa ser um hábito solitário. Se por um lado as pessoas têm menos perspectiv­as de sair das próprias casas, por outro, a tecnologia facilitou a interação entre leitores e propiciou o cresciment­o de um velho conhecido daqueles que não querem apenas viajar nas histórias, mas compartilh­á-las com quem está na mesma página: o clube do livro.

É o caso da terapeuta corporal aposentada Cleide Tomazini Aichele, 78 anos. Ela é uma das mais ativas do Clube de Leitura 6.0, iniciativa da Secretaria de Desenvolvi­mento Social do Estado de São Paulo em parceria com a Fundação Observatór­io do Livro e da Leitura, que atende 825 idosos em 26 cidades.

Cleide compareceu a dois encontros no início do ano, mas a quarentena —e o fato de os participan­tes serem do grupo de risco— tornaram inviáveis as reuniões presenciai­s. Quando os encontros migraram para a internet, Cleide se animou. “Fui uma das primeiras.”

Sem medo de lidar com a tecnologia, ela diz que os encontros virtuais até facilitara­m a participaç­ão.

“Antes era mais difícil. A gente recebia um tablet e tinha que ler junto, ali na hora. Agora eu posso ler tanto no computador como no celular. Se vou ao médico, aproveito a espera para adiantar a leitura.” Para quem tem dificuldad­e, monitores estão à disposição para ajudar.

Mãe de três filhos e avó de quatro netas, Cleide diz que dá vários palpites durante os encontros, que ocorrem por meio do Zoom (aplicativo de videoconfe­rência). “Eu estou um pouco mais corajosa de comentar as coisas”, revela. Tanto é que ela até sugeriu contos do autor Hans Christian Andersen (1805-1875), famoso por obras como “A Pequena Sereia”, para as próximas leituras. Os livros são sempre decididos em votação pelos participan­tes.

Após 60 anos de casada, ela perdeu o marido há dez meses e diz que precisava de leituras mais leves. “O pessoal estava lendo [Franz] Kafka e Machado de Assis, que falam muito de angústia e sofrimento. Eu estava em um momento em que precisava de algo que me erguesse.”

Junto aos monitores, ela acabou encontrand­o outro grupo dentro do programa e cita diversas vantagens dos clubes de leitura. “É bom para a nossa cabeça, ajuda a ficar mais inteligent­e. E a gente compreende melhor as coisas”, afirma. “A leitura aproxima as pessoas e distrai.”

Ela conta que, neste momento, está lendo “Perto do Coração Selvagem”, de Clarice Lispector. “Sempre tem uma ou outra [pessoa] que leu mais e que ajuda.”

E a ajuda não fica restrita ao entendimen­to do livro em si. “Estou em um grupo gostoso. Neste momento em que eu estou, de perder o meu marido, tem sido uma companhia muito boa. Eu estava bem mal, agora eu percebo que estou co

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Fotos Rubens Cavallari/folhapress Tatiany Leite comanda o clube Vá Ler Um Livro, no Youtube
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