Agora

Leitor diz preferir reunião virtual: ‘antes eu atravessav­a a cidade’

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meçando a ficar um pouco melhor.”

E olha que Cleide diz que o hábito é novo. “Não tinha o costume de ler e me arrependo. Casei cedo, tive meus pais e os pais dele para cuidar. Mas nunca é tarde para começar.”

Vá Ler Um Livro

Criado na quarentena, o clube Vá Ler Um Livro nunca teve versão presencial. Comandado pela professora Tatiany Leite, 26 anos, ele começou em agosto, no Youtube, e hoje tem quase 400 membros ativos.

A relação de Tatiany com os livros é antiga. Assim como o trabalho com literatura. Aos 15 anos, ela se tornou aprendiz de produção da antiga MTV Brasil, que veiculava uma campanha em que mandava o telespecta­dor desligar a TV para ler um livro. Foi aí que ela decidiu criar um blog com resenhas.

Hoje ela tem um canal no Youtube com mais de 180 mil seguidores, onde apresenta conteúdos de duas vertentes: a educaciona­l, voltada para livros que cairão em vestibular­es pelo país; e a de entretenim­ento, em que privilegia a leitura como hobby. No clube Vá Ler Um Livro, ela mistura as duas frentes.

No começo dos encontros, que ocorrem todos os domingos às 20h, Tatiany costuma dar uma aula introduzin­do a corrente literária do autor da vez. “O tanto de doutorado que eu li para falar sobre esse livro”, diz ela sobre “Macunaíma”, de Mário de Andrade, que inaugurou o grupo. “Nada é o que parece, tudo no livro tem muitos significad­os.”

Além das transmissõ­es, os participan­tes compartilh­am reflexões por meio do aplicativo de troca de mensagens Telegram. É por lá que definem, por meio de votação, os próximos livros que irão destrincha­r. Atualmente eles leem em conjunto “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis.

Tatiany Leite tenta explicar por que houve mais procura por conteúdos sobre literatura durante a pandemia. “Além da coisa do tempo, de as pessoas estarem mais em casa, tem o lance de ter que estudar em casa”, avalia. “Tem gente que tenta entender por conta própria o que não assimilou durante a aula.”

“Quando criei o clube, achei que só ia ter gente mais velha. Aí eu vi um monte de gente muito novinha entrando. Agora as faixas de idade estão bem mixadas, tem de 15 a 50 e tantos anos”, comemora.

O economista Nelson Mattera Junior, 62 anos, também viu vantagens em participar de clubes do livro em formato virtual. Assim como Cleide, ele não conseguiu ler muito durante boa parte da vida.

“Eu trabalhava no mercado financeiro, tinha uma vida agitada e não podia ter compromiss­o de leitura”, conta ele, que agora divide sua atenção entre os livros “O Clube dos Anjos”, de Luiz Fernando Veríssimo, e “Flores Azuis”, de Carola Saavedra.

Depois que decidiu priorizar a qualidade de vida, há cerca de quatro anos, Mattera começou a frequentar clubes do livro de forma presencial em diversos pontos da cidade de São Paulo. Com a pandemia, os encontros presenciai­s foram substituíd­os por reuniões virtuais —e ele comemorou.

“Eu fazia um deslocamen­to grande

Zpara participar. Moro no bairro da Saúde [zona sul] e ir para o lado do parque Villa-lobos [zona oeste] era difícil. Esse encontro virtual facilita em todos os sentidos.”

Mattera, que costuma fazer suas leituras em um aparelho do tipo Kindle, diz que não é um expert em tecnologia, mas não teve problemas para fazer uso das ferramenta­s necessária­s para participar (os encontros ocorrem via Zoom). “A pessoa te passa um link e você aparecer na sala de reunião, é muito simples.”

Para ele, o grupo está até mais animado. “A participaç­ão é maior. As pessoas comentam mesmo”, diz. “Essa forma online é muito melhor. Você não está junto presencial­mente, mas a interação é a mesma. Peço até para que, quando a biblioteca [do Villa-lobos] reabrir, não acabem com o clube virtual.” (VM)

APRESENTAD­ORA COMANDA CLUBE PELO INSTAGRAM

Criado pela apresentad­ora de rádio Ayobami Adebayo. A gente fazia leituras Gabriela Mayer, 32 anos, o clube conjuntas, dividia em partes e Põe na Estante funciona por temporadas se encontrava. Um monte de gente —a terceira acaba de ser topou participar”, conta. “Ler em encerrada, e a quarta deve estrear conjunto na pandemia veio muito em dezembro. A cada episódio, de uma reclamação de quem não Gabriela recebe dois convidados estava conseguind­o se concentrar. para discutir obras literárias, e as Mesmo de gente que lia muita coisa. discussões ocorrem a cada 15 dias, No começo, eu também estava em transmissõ­es ao vivo pelo Instagram. com dificuldad­e.” Para ela, o mais “Começou com o livro ‘Fique legal é a interação entre as pessoas. Comigo’, da [autora nigeriana] “É uma troca despretens­iosa.”

 ?? Rubens Cavallari/folhapress ?? Cleide Aichele perdeu o marido há dez meses e diz que encontros do Clube de Leitura 6.0 têm ajudado: ‘Estava bem mal’
Rubens Cavallari/folhapress Cleide Aichele perdeu o marido há dez meses e diz que encontros do Clube de Leitura 6.0 têm ajudado: ‘Estava bem mal’

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