Agora

Sim, é Santástico!

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Dif ícil achar uma explicação para as campanhas do Santos em meio a tanta confusão

Alguém um dia cunhou a expressão “Santástico, o show da Vila”, parodiando a marca da TV Globo, desde 1973, “Fantástico, o show da vida”.

Verdade que o Santos é fabuloso desde muito antes, pelo menos a partir de 1955, quando ganhou seu segundo Campeonato Paulista, 20 anos depois do primeiro título.

Entramos em seguida na era Pelé, quando a Vila Belmiro virou “a Vila mais famosa do mundo”, por abrigar um esquadrão capaz de ganhar tudo o que disputava oficialmen­te e ainda sair pelo mundo afora derrotando os campeões da América e da Europa. Muitas vezes com goleadas.

Entre 1955 e 1970, apenas como exemplo de uma década e meia, o Santos ganhou 11 estaduais, quatro torneios Rio-são Paulo, seis Taças Brasil, duas Libertador­es e dois Mundiais.

E alimentou a seleção brasileira com seus jogadores na campanha do tricampeon­ato entre 1958 e 1970: Zito e Pelé, em 1958, Gylmar, Mauro, Zito e Pelé, em 1962, Carlos Alberto, Clodoaldo e Pelé, em 1970, fora os que foram campeões como reservas de luxo, como Joel Camargo, Mengálvio, Coutinho, Pepe e Edu.

De lá para cá, muitas glórias caíram na rede peixeira, e nos acostumamo­s a ouvir repetidame­nte duas frases, uma sobre o DNA santista e outra sobre os raios que só caem na Vila Belmiro—e teriam sido três: Pelé, Robinho e Neymar.

Descontemo­s o exagero da segunda, porque, embora justificáv­el quando Robinho e Neymar surgiram, o primeiro não cumpriu e o outro ainda derrapa, apesar do indiscutív­el talento.

Mas essa coisa do DNA parece mesmo algo sobrenatur­al.

Sem ter torcida comparável às de outros grandes do futebol brasileiro, com cartolas abaixo da crítica, os do passado inclusive, porque incapazes de aproveitar o período hegemônico para estruturar um clube gigantesco, lembremos, o Santos faz parte do cada vez mais reduzido grupo dos que jamais foram rebaixados —ao lado do Flamengo, o mais popular do país, e do São Paulo, o terceiro.

Andou batendo na trave, é verdade, mas bater na trave não altera o placar.

Houve até um momento, para indignação do então senador, e santista ardoroso, o agora vereador mais votado da capital paulista, Eduardo Suplicy, em que havia quem previsse futuro sombrio para o Santos Futebol Clube. A modéstia impede citar o autor de tão terrível, e felizmente equivocada, previsão.

Então, hoje, a rara leitora e o raro leitor olham para o Santos e veem o quê?

Em meio ao impeachmen­t do presidente, à pandemia, à eterna crise financeira e aos atrasos salariais, o Santos cumpre campanha digna no Covidão-20, a apenas cinco pontos do líder, com os mesmos 37 do milionário Palmeiras —além de estar invicto na Covidadore­s-2020, com o mesmo número de pontos do Palmeiras na fase de grupos e a segunda melhor campanha, inferior só no critério do saldo de gols.

Daí, sem o goleiro titular João Paulo, o zagueiro Luan Peres e o técnico Cuca, todos curtindo penosa quarentena por causa do novo coronavíru­s, o time sobe aos 2.850 metros de altitude de Quito, onde a LDU enfiou 4 a 2 no São Paulo e o Flamengo levou de 5 a 0 do Independie­nte del Valle, e ganha brilhantem­ente a partida por 2 a 1.

Aliás, neste século, em 17 jogos no estádio Casa Blanca, os times brasileiro­s perderam 12 vezes. Como explicar?

Só remetendo a Jackie Stewart, o piloto escocês que disse “deve ser a água que eles bebem” para explicar o sucesso dos brasileiro­s na Fórmula 1.

É Santástico!

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