Cristiane diz que sua geração deixou picanha para novatas
Jogadora do Santos festeja mudanças e planeja disputar Jogos de Tóquio
SANTOS Cristiane Rozeira, 35, pôs à prova a maior relação de amor que construiu em anos de carreira no futebol feminino em 27 de setembro de 2017, quando anunciou em tom de desabafo o fim do seu ciclo na seleção brasileira por discordar de decisões da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). Disse sofrer de cansaço físico e emocional.
Na ocasião, fez um último apelo, que passou quase despercebido: “Por favor, melhorem essa diária de R$ 250 que as meninas recebem”. Menos de um ano depois, em abril, convencida por Vadão, a atacante estava de volta para a disputa da Copa América, no Chile. Ao lado das lideranças de Formiga e Marta, ansiava ser ouvida. “Voltei para ter voz aqui dentro”, dizia.
Mais de três anos após a desistência inicial, ela abre um sorriso ao ouvir falar sobre seleção e a medida anunciada pela CBF no último 2 de setembro. A entidade decretou pagamentos igualitários de diárias e premiações equivalentes entre homens e mulheres.
“É uma vitória não somente minha, mas de toda uma geração anterior. Não foi pouca coisa, não, viu?”, diz Cristiane. “Aliás, eu falo para as meninas que deixamos picanha para essa nova geração comer. Deixamos churrasco para elas, porque o nosso sonho virou realidade. É uma briga nossa de muitos anos, é um baita de um orgulho.”
Dona de marcas expressivas dentro das quatro linhas —participou de cinco Mundiais e é a principal artilheira da história dos Jogos Olímpicos, com 14 gols—, a atacante do Santos se diz mais madura.
“Entendi que não dá mais para abraçar o mundo. Muitas vezes, fiz sozinha e a porrada veio. Acabei tomando algumas por fazer barulho e é impossível ter retorno de um grupo inteiro junto. E, se não tem, acaba tomando bronca sozinha”, afirma.
Agora, sua mira está principalmente a Olimpíada de Tóquio, adiada para o próximo ano por causa da pandemia de Covid-19. (Folha)