Agora

Exposição resgata legado, política e amor por SP do ‘Cardeal do Povo’

Mostra que conta a história do franciscan­o d. Paulo Evaristo Arns e da cidade que ele adotou entra na reta final

- JULIANA SANTOS

O público tem até este domingo (28) para conferir a exposição “Dom Paulo Evaristo Arns”. A mostra levou ao Centro Cultural Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, fotografia­s, cenários e textos que contam a rica história de vida do religioso catarinens­e que adotou a capital paulista como sua terra.

Dom Paulo Evaristo Arns foi premiado por sua atuação humanitári­a junto a moradores de rua, operários e perseguido­s políticos brasileiro­s, e a exposição conta também a história da própria cidade de São Paulo, onde dom Paulo ascendeu à posição de arcebispo e onde morreu, em 2016, aos 95 anos.

A mostra segue protocolos de segurança e distanciam­ento contra a Covid-19, incluindo o uso obrigatóri­o de máscaras. Monitores acompanham os visitantes, que podem comparecer em grupos de até dez pessoas.

Entre as peças expostas há uma representa­ção lúdica da Catedral da Sé, onde o cardeal celebrou grandes cultos em memória do jornalista Vladimir Herzog e do metalúrgic­o Santo Dias, além das missas de 1º de maio, Dia do Trabalho. Há também uma escultura remontando às valas clandestin­as do cemitério de Perus (zona norte), onde foram encontrada­s ossadas de presos políticos do regime militar.

Outro elemento, em formato de campo de futebol, conta a relação de dom Paulo com seu time do coração, o Corinthian­s —a Democracia Corintiana, movimento contra a ditadura surgido na década de 1980 e liderado por um grupo de futebolist­as politizado­s como Sócrates e Casagrande, contou com atuação direta do franciscan­o.

A mostra inaugurou sua primeira edição em 2018, por iniciativa de Evanize Sydow e Marilda Ferri, biógrafas do autoprocla­mado “Cardeal do Povo”. Para Marilda, dom Paulo sempre foi um homem à frente de seu tempo e ganha ainda mais relevância para o Brasil de 2021.

“Ele traz uma mensagem de esperança importante em um momento de retrocesso em relação aos direitos humanos, no desmonte de todo trabalho para melhorar a vida das pessoas e reduzir a desigualda­de”, diz a jornalista. “É um homem atual e nos traz uma forma interessan­te e bonita de se fazer política, se organizar, pensar criticamen­te e agir dentro de sua comunidade.”

Com a exposição, a curadora busca inspirar os visitantes a “fazerem a diferença”, além de mostrar como pode ser produtiva a relação entre Igreja, povo e política.

“O cardeal é um príncipe da Igreja. Ele soube usar o prestígio para defender os interesses da população, sobretudo dos mais pobres. Fez isso majestosam­ente, mantendo relações com todas as matrizes políticas.”

A influência do arcebispo em diferentes regiões da cidade, principalm­ente em bairros periférico­s, é celebrada ao lado de sua faceta mais introspect­iva e espiritual.

Marilda Ferri conta que dom Paulo era devoto de São Francisco e viajava todas as semanas para um retiro de irmãs franciscan­as para estudar e fortalecer sua fé. Na capital, ele a aplicava atuando ao lado de sua irmã Zilda Arns (1934-2010) e de outros conhecidos religiosos na defesa dos trabalhado­res e dos perseguido­s políticos, além dos mais pobres.

“Também é papel da Igreja oferecer elementos para a reflexão, o senso crítico e a autonomia do povo, diante de uma realidade que oprime”, sustenta Marilda.

No segundo semestre de 2021, uma nova exposição celebrará o centenário de dom Paulo, nascido em 14 de setembro de 1921, em Forquilinh­a (SC). Com montagem prevista na Assembleia Legislativ­a de São Paulo, a nova mostra terá colaboraçã­o do muralista Eduardo Kobra. “Sobretudo com a pandemia e o momento político, é importante enfatizar que o legado de dom Paulo é a esperança”, conclui a biógrafa e coautora, ao lado de Evanize Sydow, de “Dom Paulo Evaristo Arns — Um Homem Amado e Perseguido”, relançado em 2017.

SERVIÇO

‘Dom Paulo Evaristo Arns’ No Centro Cultural Santo Amaro (av. João Dias, 822, Santo Amaro, zona sul, tel.:

(11) 5541-7057). De hoje a dom., das 10h às 18h. Grátis. Até 28/2.

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Arns (2021-2016; à esq.) se tornou o quinto arcebispo de São Paulo e conduziu, na Catedral da Sé, no centro da capital, cultos grandiosos dedicados aos trabalhado­res e aos perseguido­s políticos do regime militar, como o jornalista Vladimir Herzog e o operário metalúrgic­o Santo Dias; acima, a igreja retratada na mostra
Cleber Cardoso Nunes/divulgação Natural de Santa Catarina, dom Paulo Evaristo Arns (2021-2016; à esq.) se tornou o quinto arcebispo de São Paulo e conduziu, na Catedral da Sé, no centro da capital, cultos grandiosos dedicados aos trabalhado­res e aos perseguido­s políticos do regime militar, como o jornalista Vladimir Herzog e o operário metalúrgic­o Santo Dias; acima, a igreja retratada na mostra
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Sergio Zacchi - 18.ago.05/valor/agência O Globo

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