Agora

Meus 20 anos

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Ai, Corinthian­s, cachaça do torcedor, colorido em preto e branco, sem preconceit­o de cor, ai, Corinthian­s, quando és o vencedor, pobre fica milionário rindo da própria dor”.

Ninguém cantou tão bem o corinthian­o, que é o próprio Corinthian­s encarnado, quanto Paulinho Nogueira em “Meus 20 anos”. O sofrimento, a fé, o humor oscilante e a tristeza profunda intercalad­a com átimos de alegria estão nas “poucas vitórias, algumas sensaciona­is”, tudo registrado na composição feita logo após a perda do Paulista de 1974 para o maior rival.

O martírio alvinegro perduraria mais três longos anos até ser chutado, com coragem e decisão, após idas e vindas, insistênci­as e rebatidas, por Basílio.

Preto no branco, o sofrimento colorido da vida é cinza. Até virar cinzas. Na morte e vida sofrida do dia a dia, a vitória de hoje é matéria vencida amanhã.

Viver é sobreviver. Sobreviver é ter a chance de aprender a viver para sobreviver. Ao contrário do ditado mal usado que “não temos que provar nada para ninguém”, máxima que distorce a realidade, torcedor tem que provar todo dia para si próprio que não será derrotado.

No ambiente inflamável, incerto e perigoso de expiações e provas, vitórias, todas elas, são subjetivas e perecíveis. E lutam contra todo o sepulcral poder objetivo da eternidade que joga no time adversário da derrota, muitas vezes, definitiva.

“Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.” Sábio, Guimarães Rosa.

Na sofrida maratona em que a luta é para estender o tempo da chegada em relação à partida, os infinitos e íngremes degraus são vencidos de forma gradual, um a um, um a um, um a um, ora mais rápido, ora se apoiando para não perder o equilíbrio. A queda, não. É direta, veloz, vertical e, às vezes, na maioria das vezes, fatal.

Corinthian­o há 44 anos, dia 1º fará 20 anos que Alemão é capaz de entender que não existe triunfo sem abnegação total, suor, dor, tropeços, dificuldad­e e muito sofrimento. Pior, aprendeu que a vitória da sobriedade de hoje caduca amanhã.

“São 20 anos de espera, devoção e muito amor, cada vitória é uma festa.” Só por hoje.

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Chico Xavier: “Que eu não perca a beleza e a alegria de ver, mesmo sabendo que muitas lágrimas brotarão dos meus olhos e escorrerão por minha alma”.

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