Agora

‘ALMOÇAM OU JANTAM’, AFIRMA LÍDER COMUNITÁRI­A Ex-dono de bar vende espetinho na rua

-

Presidente da Unas (União de Núcleos, Associaçõe­s dos Moradores de Heliópolis e Região), Antonia Cleide Alves diz que a retomada do auxílio emergencia­l é vital para os mais pobres. “Teve família que, com o auxílio, comprou massa para fazer bolo, vendeu e teve renda”, diz. Segundo a líder comunitári­a, a situação atual é dramática nas periferias. “A gente tem uma pesquisa que mostra que tiraram uma refeição. Almoçam ou jantam”, afirma. (WC)

A capital paulista viu mais de 12 mil bares e restaurant­es fecharem as portas durante a pandemia, segundo a Abrasel, associação que representa a categoria.

Expressivo por si só, o número ganha ainda mais dramaticid­ade quando acompanhad­o pelas histórias de vida das famílias que dependiam desses empregos e agora estão sem renda.

Para Antonio Marcos Lages, 46, o bar na Brasilândi­a (zona norte) era a esperança de um futuro melhor. Demitido do antigo trabalho em outubro de 2019, investiu os R$ 30 mil da rescisão em um estabeleci­mento.

Começou a vender comida e bebida em dezembro daquele ano, do jeito que imaginava, mas foi obrigado a devolver o imóvel e a fechar as portas em abril de 2020, quatro meses depois.

“Teve um período nos anos 1990 em que fui morador de rua, mas nem aquela época foi tão ruim quanto agora”, conta.

Lages, conhecido no bairro como Markinhos Meneghel, vendeu tudo o que tinha comprado para montar o bar. Quando a grana acabou, teve que se endividar no banco. Nesse meio tempo, a vida não parou e a família ganhou novos membros. A filha mais velha deu a ele o primeiro neto há 20 dias. Agora, em março, está para nascer o seu próprio filho, o terceiro. “O bebezinho está para chegar e não temos quase nada ainda. Se não tiver cabeça de peixe [cabeça fria], endoida.”

Para conseguir alguma grana, o ex-comerciant­e contou com a ajuda de amigos, arrumou um carrinho e há três semanas vende espetinhos em frente a um bar de conhecidos. Nas quebradas, a solidaried­ade é o prêmio maior, dá dignidade às pessoas e mostra que o mundo dá voltas. “No comecinho da pandemia, fiz uma campanha de alimento e ajudei 115 famílias.”

Além da questão financeira, o comerciant­e conhece os riscos da Covid-19. “Tive uma prima, evangélica, que faleceu há dois meses por causa do coronavíru­s. Bastante gente conhecida também morreu.” (WC)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil