Tempo, tempo, tempo, tempo
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Uso intenso das redes sociais na quarentena provoca ansiedade e mal-estar generalizado
Fez um ano que a pandemia chegou ao Brasil, com o saldo trágico de 250 mil mortos. Quem teve o privilégio de não morrer ou de não ter a sua vida devastada pelo luto e pelo desemprego, que atingiu milhões de famílias, provavelmente teve um ano muito pior do que imaginava no começo.
Pelo que ouço por aí, os planos de aproveitar a quarentena para botar a casa em ordem, ler os livros acumulados e assistir a todas as séries da Netflix ficaram pelo caminho de muita gente. Foram substituídos pela realidade insana de dividir o tempo entre o home office, a faxina e a ajuda aos filhos nas aulas online —e pela tentativa de sobreviver mantendo a sanidade mental num país que só afunda num mar de ódio, mentira e ignorância. Neste novo mundo, quem não está ansioso ou deprimido não é normal.
Há uma longa lista de causas para o mal-estar generalizado, mas uma das que merecem estar no topo é justamente a falta de tempo. E um dos principais culpados disso são as redes sociais. Você já marcou quantas horas perde a cada vez que dá uma olhadinha no Facebook ou no Instagram? Você não fica com aquela sensação de que está perdendo alguma coisa se não entrar várias vezes por dia no Twitter? Sinceramente, você tem a mesma concentração que tinha antes do advento do Whatsapp, pipocando ao seu lado a cada dois segundos?
Em meio ao isolamento social, a frequência do uso das redes sociais só aumentou. O que, por um lado, é plenamente justificável como uma forma de manter laços familiares e de amizade na impossibilidade de encontros presenciais. Mas, por outro, há muito prejuízo, ainda por ser mensurado, nesse tempo que é drenado pelo mundo digital.
Como defendeu o filósofo Paul Virilio (1932-2018), já não vivemos o presente, vivemos o instante de uma realidade acelerada. E isso nos impede de ver a realidade, inclusive a diferença entre verdadeiro e falso. Como o tempo humano é esmagado, dizia ele, não vemos nada.