Mães em evolução
Neste Dias das Mães elas contam que cada vez mais se preocupam em incentivar, nos filhos, sentimentos como aceitação e amor próprio
Quando era criança no fim dos anos 1980 e início dos 1990, a maquiadora Gaby Viana, hoje com 36 anos, afirma que a principal referência de beleza que tinha era a Xuxa, que comandava na Globo o programa infantil de maior audiência da TV. “E ela não representava em nada o que eu via quando me olhava no espelho.”
Se enxergar bonita e se aceitar foi um processo para Gaby, que agora tem essa preocupação com as suas duas filhas: Helena, 7 anos, e Olívia, 10 meses. Felizmente, diz ela, há hoje muito mais referências de meninas e mulheres negras em livros, nos desenhos e na mídia, que colaboram nessa questão.
Pesquisa da Kantar Insights mostra que a aceitação é hoje o principal ensinamento que as mães querem passar às suas filhas. O levantamento “O que as mulheres querem” ouviu 800 brasileiras de 18 a 65 anos, em fevereiro de 2021. Desse total, 20% das entrevistadas disseram querer transmitir às filhas —e a outras mulheres com quem convivem— a ideia de que elas são especiais por si só e não devem se comparar aos outros, nem ter vergonha do próprio corpo. Em 2019, de acordo com o mesmo estudo, o tema da aceitação era prioridade para 9% das entrevistadas.
A assessora Lenina Velloso, 39 anos, mãe de Luísa, 7, conta que o assunto começou a preocupála conforme a filha foi crescendo e iniciou a vida escolar e a interação com os colegas. “Você começa a ficar atenta sobre que percepção a criança está tendo dela mesma a partir do olhar do outro”, diz.
“Eu sempre falei e reforcei que temos que nos gostar do jeito que somos. Não importa se está mais gordinha ou magrinha, se tem cabelo liso ou enrolado.” E mais do que falar, Lenina percebeu que precisava dar o exemplo e passou a se policiar para não reclamar do próprio corpo na frente de Luísa.
Tanto Lenina quanto Gaby afirmam que se preocupam em mostrar para as filhas que aparência não é tudo. “O que eu espero é que a Luísa possa aceitar o corpo dela, amando a si própria do jeito que é, mas sabendo que isso é só um detalhe de quem somos. Sem valorizar demais essa questão física, que é muito menos importante do que aquilo que somos por dentro.”
A maquiadora tem postura semelhante e conta que ela e o marido tentam ressaltar outras qualidades da criança, como o fato de a filha ser corajosa.
De acordo com a psicóloga Izabella Paiva Monteiro de Barros, pesquisadora da USP, a imagem que a criança ou o adolescente tem de si mesmo não pode estar ligada apenas a características instáveis, como a estética.
“Porque a pessoa se transforma, se modifica. A gente não pode ter a nossa autoimagem ancorada
em um único bem, um único valor.”
Mãe de adolescente
A comunicadora digital e DJ Beatrice Oliveira, 42 anos, salienta que é preciso fazer o recorte de raça na questão da aceitação.
“A autoestima para nós, povo preto, desde sempre nos foi tirada, nos foi roubada por causa do nosso passado de escravidão e das muitas violências sofridas.” Ela afirma que vivenciou o racismo estrutural na infância e só adulta conseguiu se enxergar como uma mulher bonita, interessante e inteligente. “Meus traços eram vistos como feio, a boca, o nariz, o cabelo.”
Beatrice conta que, quando teve o filho Zion, hoje com 17 anos, desejou que ele tivesse uma vivência completamente contrária à sua. “Eu o inicie desde cedo nessa questão da identidade, de ele saber que era uma criança negra.”
Um dos símbolos trabalhados