Baterias do samba se reúnem para ajudar ritmistas na crise
Músicos perderam renda com interrupção de shows e eventos e agora dependem das doações
A Covid-19 silenciou temporariamente as baterias das escolas de samba da capital paulista, mas tem feito seus integrantes usarem a solidariedade como instrumento para atravessar, dignamente, a pandemia.
O Bateria Solidária nasceu há pouco mais de um mês para dar força a quem sempre levantou o Anhembi e as quadras espalhadas por São Paulo. Mestre Higor, da Acadêmicos do Tatuapé, lançou no grupo de seus pares a ideia de arrecadar mantimentos para os ritmistas que, com a proibição de shows e eventos, perderam renda. Muitos deles tinham na música sua única forma de sustento.
“Havia uma conversa entre alguns mestres de bateria para auxiliar aqueles que tanto nos ajudam no dia a dia. O sentido era de conseguirmos reunir o maior número possível de pessoas para colaborar, independentemente de ser do Carnaval ou não”, afirma Higor.
Acostumados a liderar músicos e a sincronizar batidas com gestos cheios de energia, 34 mestres de bateria atenderam ao chamado e arregaçaram as mangas para evitar que seus comandados passassem fome durante essa fase tão crítica. “Tudo parou da noite para o dia. As pessoas eram muito ligadas ao Carnaval. Fora a parte financeira, o psicológico é afetado também”, diz o mestre da Tatuapé.
A estimativa é de que cerca de 5.000 pessoas estejam ligadas diretamente às baterias das escolas de todos os grupos na capital.
Mestre Vitor Velloso, da Estrela do Terceiro Milênio, é um dos integrantes do grupo solidário. “É um momento realmente muito complicado. Se a pandemia não der uma trégua e piorar ainda mais, caso não tenha o Carnaval de 2022, será uma situação muito complicada não só para a comunidade, mas para as escolas também”, explica.
Diante de tanta dificuldade, Velloso faz um apelo a todos. “O povo que gosta realmente do Carnaval, que tem uma condição financeira melhor, que ajude e faça alguma doação”, diz.
“Também está chegando o inverno e estamos pensando em arrecadar cobertores e agasalhos. Quem puder deve ajudar. O caminho é esse”, afirma.