Telhados de vidro
Amais recente pesquisa do Datafolha mostrou o estrago que as denúncias de corrupção no Ministério da Saúde fizeram na imagem de Jair Bolsonaro.
Todo mundo lembra que o presidente foi eleito em 2018 prometendo combater duramente a corrupção. Pois parece que, como é muito comum na política, era mais conversa fiada do que um compromisso verdadeiro.
Bolsonaro é líder de um clã envolvido em muitas práticas nebulosas, como “rachadinhas” e milícias.
Na Presidência, esqueceu rapidamente o que pregava antes. Fritou bastante e depois livrou-se do ícone maior da Lava Jato, Sergio Moro, e depois ajudou a enterrar a própria operação. E promoveu a volta da figura do procurador-geral da República amigão do Planalto.
Em nome de evitar o risco de um impeachment, apoiou a tomada do Congresso
pelo centrão, que apenas está começando sua jornada com propostas como a por ora barrada PEC da Impunidade.
E agora as suspeitas de roubo na compra das vacinas mancharam de vez a fachada moralista bolsonarista.
Segundo o Datafolha, 70% dos brasileiros acham que há corrupção no governo. Para 63%, ocorrem malfeitos na Saúde; para 64%, o presidente sabia de tudo.
Tudo isso jogou a avaliação do governo lá embaixo, mas os adversários do presidente têm um telhado de vidro tão ou mais vistoso que o seu. Não à toa, o PT já disse que vai deixar o tema corrupção meio de lado na campanha de 2022.
No passado, petistas também usaram o discurso anticorrupção de forma demagógica, como hoje bem se sabe. Infelizmente, no governo e na oposição, não se vê ainda uma atitude madura e rigorosa num tema tão importante.