Agora

Melhor ter Jogos sem torcida do que não ter Olimpíada, diz Bolt

Aposentado, craque dos Jogos de 2008, 2012 e 2016 vai acompanhar as disputas pela televisão

- ALEX SABINO

Quando a pandemia da Covid-19 provocou o adiamento dos Jogos de Tóquio para julho de 2021, Usain Bolt, 34, não achou uma má ideia. Ele acreditou que seria possível levar Olympia Lightning Bolt para ver sua primeira Olimpíada. A filha do velocista nasceu em maio de 2020, cerca de três anos após a aposentado­ria do pai.

O vírus tinha outros planos. A doença não arrefeceu em parte do planeta, Japão incluído, e torcedores não estarão presentes nos estádios. O jamaicano vai acompanhar pela TV as provas que dominou por três Jogos consecutiv­os.

“Vai ser uma experiênci­a diferente, mas vou relaxar e aproveitar a competição”, afirma um dos maiores atletas da história, recordista mundial dos 100 m e 200 m, em entrevista concedida uma semana antes do início da Olimpíada.

Bolt não deseja passar a imagem de que as restrições serão ruins. Ele sabe o quanto os corredores esperam por esse momento.

“Não vai ser a mesma coisa, mas vivemos momentos difíceis. É melhor ter a Olimpíada sem torcida do que não ter Olimpíada.”

Segundo nome com mais medalhas de ouro no atletismo dos Jogos, Bolt se despediu do evento em 19 de agosto de 2016, na pista do Nilton Santos, no Rio de Janeiro, com a vitória no revezament­o 4 x 100 m.

Ao cruzar a linha de chegada, apontou para a torcida, enrolou-se em uma bandeira da Jamaica, ensaiou passos de dança com os outros integrante­s do time (Asafa Powell, Yohan Blake e Nickel Asmeade) e deu uma volta no estádio para aproveitar pela última vez os aplausos e a adulação.

Era o adeus, o desfecho perfeito imaginado para a sua carreira olímpica.

“Eu já sabia que minha última Olimpíada seria no Rio, então apenas tentei desfrutar daquele momento. Era a chance também de agradecer aos torcedores que me apoiaram durante todos aqueles anos”, lembrase ele, que ainda é chamado pela alcunha de “homem mais veloz do mundo.”

O apelido não é por acaso. Bolt ainda detém os recordes mundiais dos 100 m e 200 m. Sua última competição foi o Mundial de Atletismo de 2017. Ele mesmo considera que seu tempo de 9s58, cravado em Berlim, em 2009, deve durar ainda por muito tempo.

“Acho que um dia esse recorde será quebrado, mas não vejo como isso possa acontecer em um futuro próximo”, analisa.

Nem mesmo pelo norte-americano Trayvon Bromell, que Bolt aponta como favorito ao ouro nos 100 m em Tóquio. Pelo menos é o competidor que lhe vem à cabeça quando questionad­o sobre em quem apostaria para vencer a prova mais glamourosa do atletismo.

“Eu não gosto de colocar pressão em ninguém, e há muitos bons velocistas correndo em 9,8 segundos neste ano. Mas Trayvon Bromell me pareceu estar bem ao vencer o campeonato americano algumas semanas atrás e ele tem o tempo mais rápido do mundo em 2021”, ressalta, citando a marca de 9s77 do atleta dos Estados Unidos.

O atletismo olímpico terá um medalhista de ouro nos 100 m e 200 m que não se chama Usain Bolt pela primeira vez desde os Jogos de Atenas em 2004. Justin Galt (100 m) e Shawn Crawford (200 m), ambos norte-americanos, foram ao lugar mais alto do pódio na Grécia.

As três Olimpíadas seguintes tiveram o jamaicano como referência, sem que jamais tenha perdido uma final. Além dos resultados, seu carisma, o sorriso fácil mesmo sob pressão e a capacidade de se manter relevante ao longo dos anos o elevaram à condição de uma marca global. Fizeram também com que dissesse almejar chegar ao status de Pelé e Muhammad Ali.

Vida ocupada

Mesmo sem treinos, viagens e provas, sua vida está movimentad­a, garante.

“Tem sido ótimo. Estava muito ocupado com meus patrocinad­ores e o trabalho da minha fundação [que doa computador­es para crianças na Jamaica] antes da pandemia. As coisas ficaram mais lentas no ano passado por causa das restrições para viajar, mas agora estou ocupado de novo”, afirma.

Ver pela TV as provas em que foi o nome máximo produz sentimento de nostalgia em Usain Bolt. Mas só até certo ponto.

“Eu sinto falta de competir. Sempre gostei de entrar em um estádio, com fãs gritando, esperando uma grande corrida. Não sinto saudade de treinar.” (Folha)

Faltam

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Dylan Martinez - 14.ago.16/reuters O velocista Usain Bolt diz que sente falta de competir e da atmosfera das grandes provas, mas não está com saudade dos treinos pesados

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