Atletas ganham chance com adiamento
A pandemia da Covid-19 prejudicou a preparação de muitos atletas olímpicos, impedidos de treinar ao longo de meses, e alimentou suas ansiedades. Mas o adiamento dos Jogos de Tóquio, ainda que por um motivo catastrófico, também se mostrou benéfico para esportistas em ascensão, para aqueles que se recuperavam de lesões ou para os que simplesmente desejavam um ano a mais para se aprimorar.
É o caso do velocista Felipe Bardi, de 22 anos, que sofreu em 2018 uma lesão no púbis que o tirou de ação por quatro meses. No ano seguinte, ainda atormentado por problemas físicos, não conseguiu deslanchar.
Quando veio a pandemia, sua primeira reação foi de frustração. Depois, ele percebeu que o tempo poderia lhe ser benéfico.
“Eu consegui rever o que estava errando e voltei a treinar pensando nos Jogos. Queria fazer o dobro para conseguir chegar melhor neste ano”, afirma.
Até 2019, sua melhor marca nos 100 m rasos era 10s23. No ano passado, ele alcançou 10s11. Em abril de 2021, baixou para 10s10.
O adiamento também foi esportivamente positivo para a ginasta Rebeca Andrade, que lesionou o joelho direito, teve que passar por sua terceira cirurgia no local e perdeu o Mundial de 2019. O salto de 2020 para 2021 ajudou a atleta a se preparar de maneira melhor.
“Esse período a mais foi muito importante, tanto para o meu físico quanto para o mental”, afirma a atleta de 22 anos.
Fase de crescimento
Há também aqueles atletas aos quais foi produtivo simplesmente ficar mais velho. Quando os Jogos foram adiados, em março de 2020, Ana Cristina tinha 15 anos e ainda não havia disputado uma Superliga de vôlei.
Promovida ao elenco adulto do Sesc Flamengo, ela confirmou as expectativas e se destacou. Foi convocada para disputar a Liga das Nações e, aos 17, permaneceu no grupo de convocadas para a Olimpíada.
“Acho que a ficha ainda não caiu, mas estou imensamente feliz. Não esperava estar aqui tão nova”, afirma.
Houve também entre os experientes aqueles que viram o adiamento como proveitoso. O velejador Robert Scheidt, 48, pôde superar um momento negativo.
“No ano de 2020, eu não vinha em uma fase muito boa, tive problemas físicos, com lesões”, diz Scheidt. “A pandemia é uma tragédia global e me solidarizo com todas as pessoas que perderam entes queridos. No meu caso, esse período a mais de preparação acabou sendo favorável”, conclui. (Folha)