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Livro mostra como Barcelona se perdeu e se afundou em dívidas

Obra revela bastidores de decisões que fizeram a equipe catalã gastar uma fortuna para ficar pior

- PAULO PASSOS

O Barcelona era, em 2019, bicampeão espanhol, tinha o melhor jogador do mundo, acumulava três títulos da Liga dos Campeões em 10 anos e se orgulhava do seu modelo de gestão.

Os feitos levaram o jornalista Simon Kuper à capital da Catalunha para produzir uma reportagem publicada no jornal Financial Times. Na viagem, ele teve a ideia de escrever um livro.

Autor de “Soccernomi­cs”, lançado no Brasil em 2010, e de outras obras sobre futebol, o jornalista conseguiu autorizaçã­o para ter acesso aos bastidores da instituiçã­o e falar com dirigentes, atletas e funcionári­os.

Com o título “Barça: The Inside Story of the World’s Greatest Football Club” o livro foi lançado em agosto na Europa e nos EUA.

“O retrato que descrevo é o de um clube que chegou ao máximo, ao topo, e depois caiu”, afirma Kuper à reportagem. “A vida é isso: a glória e a queda. É humano. Como grupos e empresas, times se tornam mais preguiçoso­s, erram e observam seus rivais roubarem suas ideias. E isso aconteceu.”

Lançada em inglês, sem previsão de publicação no Brasil, a obra é certeira ao elencar os acontecime­ntos que levaram à queda do gigante catalão. Consegue desnudar os processos internos do clube e desmistifi­ca o que se imaginou ser um modelo de gestão e eficiência para revelar jogadores, montar times que jogam bonito e fazer os torcedores felizes.

Após anos de glória, o Barcelona acumulou dívidas de mais de R$ 8 bilhões e possuía, em agosto, patrimônio líquido negativo de R$ 2,7 bilhões, segundo relatório oficial. Só a folha do time profission­al é maior do que todas as receitas mensais do clube.

As contas no vermelho são reflexo das gestões turbulenta­s nos últimos anos e do impacto que a pandemia, ao esvaziar o Camp Nou, gerou nas receitas.

Os “directius”, uma versão catalã dos cartolas, têm, segundo Kuper, um papel central nessa decadência. Não são poucos os exemplos de barbeirage­ns dos homens que comandaram o Barça.

Um dos erros mais claros foi o destino dado à bolada de 222 milhões de euros (R$ 1,4 bilhão) recebida do PSG pela venda de Neymar, em 2017. Em menos de um ano, o clube gastou mais do que esse montante com o francês Dembélé e do brasileiro Philippe Coutinho.

“Tem uma maneira das coisas funcionare­m no clube que é externa, vem do modelo dos sócios, da imprensa. Tem essa pressão para a contrataçã­o mais cara”, diz o jornalista.

Uma marca global, o Barcelona funciona como uma associação, em que cerca de 150 mil sócios, em sua maioria residentes na Catalunha, escolhem o presidente. (Folha)

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Susana Vera - 2.out.21/reuters Remanescen­te da época de ouro, o zagueiro Gerard Piqué se irrita após o Barcelona sofrer o segundo gol contra o Atlético de Madrid pelo Espanhol

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