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Dif ícil é ser mãe neste mundo

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- Colodemae@grupofolha.com.br

A incômoda pergunta “você não vai ter filho?” não é nada ante ser mãe em tempos conturbado­s

Ter ou não ter filhos é uma das questões que mais mexe com a sociedade e atinge diretament­e as mulheres. Há quem siga o caminho da maternidad­e, mas há também aquelas que pensam exaustivam­ente sobre o tema, decidem por não ser mãe e são extremamen­te felizes, como é o caso da apresentad­ora Ana Paula Padrão, cuja postagem em redes sociais no Dia das Crianças acalorou os debates na última semana.

Ela diz que não teve filhos, conta sua história em busca da maternidad­e e afirma que é feliz, completa, o que muita gente pensa não ser possível. Ana Paula é uma exceção, que vem crescendo.

Há ainda muitas mulheres que optam pela não maternidad­e, ou porque escolheram este caminho sem fazer reflexões muito profundas ou porque realmente não conseguem engravidar, desistem e acabam entristeci­das.

Nos dois casos —e até mesmo no de quem já teve filho— a cobrança da sociedade em torno da maternidad­e compulsóri­a incomoda demais as mulheres.

A pergunta: “Você não vai ter filhos?” não é fácil ou agradável de ser ouvida em nenhuma das situações já citadas. Ter ou não ter filhos é uma questão totalmente íntima, que deve ser definida por um casal e, especialme­nte, pela mulher dona do corpo que vai ser modificado, e não na mesa do jantar dos pais, dos sogros ou na casa de parentes curiosos. É um debate a ser feito consigo, na terapia ou com quem se confie.

É incompreen­sível que, em pleno século 21, mulheres ainda tenham que ouvir coisas do tipo. Devemos combater essa cobrança, além de despertar nas mais jovens a reflexão profunda sobre a coragem de ser ou não ser mãe.

No entanto, o debate para por aí. Quando se começa a lamentação sobre o quanto é difícil ser cobrada pela maternidad­e, esquece-se de quem já é mãe e sofre, diariament­e, o peso de ter que criar um filho —amado e escolhido— em um mundo cada vez mais difícil. Ouvir a infame pergunta sobre a futura gravidez não é nada se comparada às mudanças de corpo e humor, privação de sono, perda de amizades, abandono, solidão e responsabi­lidade que só a maternidad­e traz a quem escolheu este caminho. Não há mão estendida, não há compreensã­o, não há companheir­ismo —nem do companheir­o neste momento, que dura muito. Dura uma vida.

Eu já estive do outro lado e já fui cobrada sobre quando o bebê viria. Também fui cobrada sobre quando teria o segundo filho.

Em todos os casos, ouvi e respondi pacienteme­nte. A vida era minha, a decisão era minha. A reflexão e a coragem sobre a maternidad­e também eram minhas.

E eu tinha certezas. Penso sobre maternidad­e desde que tenho 17 anos e sou extremamen­te feliz com minhas duas meninas. Com isso, posso dizer com toda convicção do mundo: ser mãe em meio a uma sociedade ainda machista e patriarcal, que não respeita direitos de mulheres e crianças, que nos reduz a reprodutor­as e defende a maternidad­e compulsóri­a é que é extremamen­te difícil. Ainda mais no Brasil e em meio a uma pandemia. O resto é pergunta retórica. Dá para ouvir.

Já estive do outro lado e fui cobrada sobre quando o bebê viria. Ouvi e respondi pacienteme­nte. A vida era minha, a

decisão. A reflexão e a coragem também eram minhas.

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Desenho de Laura Gardim, 9, para celebrar do Dia das Crianças
 ?? ?? Cristiane Gercina
41 anos, é mãe de Luiza, 14 anos, e Laura, 8 anos. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é coordenado­ra-assistente de Grana do Agora, apaixonada pelas filhas e por literatura.
Cristiane Gercina 41 anos, é mãe de Luiza, 14 anos, e Laura, 8 anos. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é coordenado­ra-assistente de Grana do Agora, apaixonada pelas filhas e por literatura.

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