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Fenômenos da Netflix, ‘Round 6’ e ‘La Casa de Papel’ têm semelhança­s

Ao lado de ‘Lupin’, as três séries não faladas em inglês figuram na lista das mais vistas da plataforma

- TONY GOES

ANÁLISE

Com os rostos ocultos por máscaras e as cabeças cobertas por capuzes vermelhos, pessoas armadas com metralhado­ras automática­s circulam de maneira ameaçadora por um cenário grandioso. Qualquer movimento suspeito e elas podem disparar suas armas.

A semelhança entre o visual dos assaltante­s da série espanhola “La Casa de Papel” e os guardas da sulcoreana “Round 6” é gritante. Já tem até vídeo caseiro no Youtube mostrando gente fantasiada como esses personagen­s se enfrentand­o num ringue de boxe.

Mas também há uma diferença importante. Em “La Casa de Papel”, por baixo das máscaras estão figuras com nome, pseudônimo e história pregressa. São os protagonis­tas da série, e o público se importa com o destino deles. Já os guardas de “Round 6” permanecem anônimos mesmo quando são desmascara­dos. Estamos mais preocupado­s com os participan­tes do cruel “jogo da lula”, não com seus algozes.

Lançada no final de setembro pela Netflix, a série sul-coreana já é um fenômeno planetário, tornando-se o programa número 1 da plataforma em dezenas de países. Também suscitou o surgimento de inúmeros memes, sem falar nos artigos que tentam analisar o fenômeno por vários ângulos, como este aqui.

“Round 6” está em vias de se tornar a série mais vista de todos os tempos da Netflix. Na lista das dez mais da plataforma, apenas duas produções não são faladas em inglês: a francesa “Lupin”, que acumula 76 milhões de visualizaç­ões com apenas duas temporadas, e “La Casa de Papel”, com 65 milhões —este número deve subir, pois a segunda parte da quinta e última safra só estreia em dezembro.

Essas três atrações têm muito em comum. Para começar, são thrillers clássicos com muita ação e pouquíssim­os momentos de marasmo. Seus protagonis­tas têm personalid­ades complicada­s, cheias de contradiçõ­es. Quase ninguém é totalmente bom ou totalmente mau. Para completar, há sempre muito dinheiro em jogo e, com ele, uma promessa de redenção.

As três séries reciclam ideias que o espectador conhece há muito tempo. “Lupin” é vagamente inspirada nos livros de Maurice Leblanc sobre Arsène Lupin, o ladrão de casaca, mestre dos disfarces e dos roubos espetacula­res. “La Casa de Papel” se apossa de um subgênero comum no cinema americano, o grande assalto. E “Round 6” traz para o mundo adulto as competiçõe­s até a morte que infestaram a literatura adolescent­e, em séries de romances como “Jogos Vorazes”.

Esses conceitos manjados ganharam pegada de denúncia social, mirando um problema que está na ordem do dia: a desigualda­de. O protagonis­ta de “Lupin” é negro, filho de imigrantes e foi discrimina­do a vida inteira. Em “La Casa de Papel”, há um sentimento distorcido de justiça entre o bando que assalta a Casa da Moeda e o Banco da Espanha: “vamos retomar aquilo que é nosso”. “Round 6” funciona como uma metáfora da falta de oportunida­des que aflige a próspera Coreia do Sul.

Esses problemas estão presentes em quase todos os países do mundo, o que ajuda a explicar o apelo universal das séries. Dá até para bolar uma fórmula de sucesso: ideia reciclada em nova roupagem + delação de mazelas sociais + personagen­s complexos + produção bem cuidada. Anota aí.

Pode ser que dure pouco o reinado de “Round 6” no topo das mais vistas da Netflix. Vem aí nada menos que um remake sul-coreano de “La Casa de Papel”, com um elenco cheio de estrelas locais. Berlim será feito por Park Hae-soo, intérprete de Sang-woo, o criminoso de colarinho branco de “Round 6”. O professor será feito por Yoo Ji-tae, do filme “Oldboy”, e o papel de Tóquio caberá a Jeon Jong-seo, de “Em Chamas”. Park Myong-hoon, de “Parasita”, deverá viver um dos reféns. Preparados?

São thrillers com muita ação e pouquíssim­os momentos de marasmo. Os protagonis­tas

têm personalid­ades complicada­s e há sempre muito dinheiro em jogo

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Divulgação Cena da sul-coreana ‘Round 6’, da Netflix; fórmula de sucesso de séries do tipo combina ideia reciclada em nova roupagem, crítica a mazelas sociais, personagen­s complexos e produção bem cuidada

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