Agora

Questão de dignidade

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Foi mal recebida a decisão do presidente Jair Bolsonaro de vetar trechos de projeto que prevê a distribuiç­ão gratuita de absorvente­s a mulheres de baixa renda, aprovado pelo Congresso neste mês. Os vetos ainda serão analisados pelo Legislativ­o, que pode derrubá-los.

Sob a justificat­iva de que a medida não aponta receitas para financiar as despesas, a decisão de Bolsonaro soou como descaso com uma questão que aflige muitas mulheres, a pobreza menstrual.

Infelizmen­te, a falta de ação não é exclusivid­ade do governo federal. Em 2016, o então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), barrou a distribuiç­ão gratuita de absorvente­s com justificat­iva semelhante à dada pelo presidente.

Meninas e jovens que frequentam a rede pública de ensino perdem dias de aula por falta de dinheiro para comprar o produto, tornando ainda mais vulnerável esse segmento da população.

No caso de mulheres presas e jovens internadas para cumprir medidas socioeduca­tivas, outras leis já mandam que sejam acolhidas com dignidade e higiene, o que significa que o acesso a absorvente­s deveria ser providenci­ado sem a necessidad­e de legislação específica.

Em vez da multiplici­dade de leis sobre o tema nas várias esferas administra­tivas, que podem levar a desperdíci­o de recursos, melhor seria se o governo federal coordenass­e investimen­tos com foco nas escolas públicas.

A experiênci­a do Bolsa Família ensina que transferên­cias diretas são mais eficazes para melhorar a qualidade de vida dos mais pobres, e a lição também poderia ser aplicada à pobreza menstrual. Um bônus para mulheres em idade fértil que sejam beneficiár­ias do programa também poderia ser considerad­o.

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