Estamos prontos para ver novela no streaming?
Estreia de ‘Verdades Secretas 2’, amanhã, levanta questões interessantes
OPINIÃO
As novelas foram fundamentais para a consolidação da TV aberta não só no Brasil, mas em toda a América Latina. O formato se desenvolveu no rádio, sob forte influência dos folhetins do século 19, com um objetivo claro: forçar o público a sintonizar, quase todos os dias, a mesma estação, no mesmo horário.
As primeiras novelas da TV brasileira duravam poucos meses e tinham poucos personagens. Com o passar dos anos, foram ganhando maior duração, subtramas, núcleos de humor, ações de merchandising. Uma novela moderna é todo um universo, em que o enredo principal é só um dos elementos. Esse inchaço também gerou problemas. Toda novela tem a famosa “barriga”: aquela fase em que nada de realmente importante acontece.
Por isto mesmo, as novelas tradicionais não se prestam a um dos hábitos surgidos com as plataformas de streaming: o chamado binge-watching, que no Brasil virou maratona. Só os fãs mais aguerridos conseguem assistir a quatro ou cinco capítulos seguidos de sua novela favorita.
No entanto, mesmo com o crescimento meteórico das séries, as novelas seguem sendo o gênero mais popular entre os brasileiros. Um fenômeno tão enraizado na nossa cultura que várias plataformas estão se movendo para incluir novelas nacionais inéditas em seus catálogos.
A primeira delas estreia amanhã (20), no Globoplay: “Verdades Secretas 2”, de Walcyr Carrasco. Serão 50 capítulos ao todo, cerca de um terço do número habitual de uma novela convencional. O Globoplay irá disponibilizar dez capítulos por semana, e ainda não há previsão de exibição na TV aberta. Quando houver, deve haver cortes entre as 67 cenas de sexo. Aliás, a campanha de lançamento de “Verdades Secretas 2” vem insistindo que a novela é um fruto proibidíssimo, cheio de sequências quentes e polêmicas, para atiçar a curiosidade do público e convencê-lo a assinar a plataforma.
Erotismo também não deve faltar em “Dona Beija”, cuja primeira versão foi exibida pela extinta TV Manchete em 1986. A produtora Floresta comprou os direitos do texto original e, depois de adaptá-lo, pretende gravá-lo com Grazi Massafera no papel principal. Ainda não foi confirmada a plataforma, mas o mercado aposta na Netflix.
Esses dois projetos têm muito em comum. Além das já citadas cenas eróticas, ambos dão nova embalagem a produtos já conhecidos. A duração mais enxuta é mais adequada para o ambiente do streaming, e a presença de caras famosas traz familiaridade para o espectador.
Mesmo assim, o sucesso ainda é uma incógnita. Novela é um hábito arraigado. Vamos mudar nossa maneira de consumi-las? Ou elas é que mudarão, para se adequar aos novos tempos? Mais importante: a garotada que hoje só quer saber de séries irá se interessar por esse gênero, que elas identificam com as gerações mais velhas? Como se vê, gancho é o que não falta.