O fura-teto
Diante do fracasso de sua gestão no combate à pandemia e de outros desafios do país, Jair Bolsonaro decidiu partir para um vale-tudo eleitoral e ameaça levar o Brasil a nova crise econômica.
Ao cogitar romper o teto de gastos inscrito na Constituição com a justificativa de que sem isso não será possível ampliar programas sociais, o governo aumenta a desorganização do processo orçamentário e flerta com um desastre que acabará por prejudicar as camadas mais vulneráveis da população.
O governo busca recursos para substituir o Bolsa Família por um novo programa social, o Auxílio Brasil, e assim estancar a perda de popularidade do presidente, que tentará se reeleger em 2022.
Bolsonaro determinou que sua equipe encontre meios de custear o pagamento de R$ 400 por mês a 17 milhões de famílias, mais do que dobrando o valor médio de R$ 189 dos benefícios pagos atualmente a 14,7 milhões de famílias.
Na ausência de recursos para financiar tal volume de despesas, imaginou-se classificar parte dos gastos como temporários, acomodando um tanto dentro dos limites legais e outro fora do teto.
Daí a proposta de furar a barreira imposta pela Constituição em pelo menos R$ 30 bilhões, número que poderá se multiplicar uma vez rompido o dique.
O resultado dessa insensatez será mais inflação e desemprego, pondo em risco a estabilidade econômica conquistada a duras penas nas três décadas que se seguiram à redemocratização do país.
Após dois anos e meio investindo contra as instituições erguidas pela sociedade para deter o arbítrio, Bolsonaro ameaça destruir a confiança que resta nos mecanismos criados para conter os custos da desorganização econômica.