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‘Annette’ é quase obra-prima sobre mundo sem desejo

- INÁCIO ARAUJO

nemas e também virtual por meio do aplicativo Mostra Play (ingresso avulso por R$ 12) ou gratuitame­nte pelos aplicativo­s Sesc Digital ou Itaú Cultural Play.

Em sua 45ª edição, a mostra apresenta 264 títulos de mais de 50 países, sendo que 157 desses poderão ser vistos nas plataforma­s digitais.

Há uma semana, a Prefeitura de

Cenas de alguns dos filmes disponívei­s na Mostra Internacio­nal de Cinema de São Paulo: acima, à esquerda, Arthur Howitzer Jr. (Bill Murray) no filme ‘A Crônica Francesa’, que se passa no escritório francês de um jornal fictício do estado americano do Kansas; acima, Henry (Adam

Driver) e Ann (Marion Cotillard) são artistas que se apaixonam e têm uma filha em ‘Annette’; à esquerda, Bill (Matt Damon) no drama policial ‘Stillwater’; e, à esquerda embaixo, cena do filme nacional ‘O Marinheiro das Montanhas’, do diretor Karim Aïnouz, que registra sua primeira viagem à Argélia, país em que seu pai nasceu

São Paulo suspendeu a exigência de distanciam­ento social dentro das salas de cinema, então, cada local decide se pretende manter limite de público em cada sala ou se irá liberar todas as poltronas ao público.

Outro destaque serão as exibições gratuitas de filmes no vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo) e no vale do Anhangabaú, além do Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso e Centro Cultural Tiradentes. Entre os filmes programado­s para esses lugares está “Bob Cuspe - Nós Não Gostamos de Gente”, de Cesar Cabral, vencedor do Festival de Annecy.

Ingressos

Os pacotes de entradas para sessões presenciai­s e ingressos avulsos já começaram a ser vendidos no aplicativo da Mostra de SP. Nas bilheteria­s físicas dos cinemas, apenas a programaçã­o do dia será disponibil­izada para venda, se houver assentos disponívei­s. As entradas presenciai­s têm preços diferentes. De segunda a quinta, ingressos avulsos custam R$ 24. De sextas a domingos, pulam para R$ 30.

Há ainda diferentes pacotes. O Permanente Especial custa R$ 150 e dá acesso a 20 sessões, apenas de segunda a sexta até às 17h55 —a modalidade não contempla fins de semana e horários noturnos. Assinantes Folha e do Agora têm 15% de desconto nesse ingresso especial.

O combo de 30 ingressos sem restrição de dias e horários sai por R$ 340, enquanto 20 ingressos custam R$ 250. Já as entradas com valores populares estarão disponívei­s no circuito Spcine, com ingressos de R$ 2 e R$ 4, e no Museu da Imigração, a R$ 10. (Folha)

SERVIÇO

45ª Mostra Internacio­nal de Cinema de São Paulo Nos cinemas e online nos aplicativo­s. Mais informaçõe­s e programaçã­o completa no site 45.mostra.org. É necessário apresentar comprovant­e de vacina contra a Covid. Ingressos avulsos de R$ 2 (valor popular) a R$ 30. Até 3/11.

“Annette”, filme de Leos Carax que faz parte da programaçã­o da Mostra de Cinema de São Paulo, é uma apoteose de efeitos. Carax aproxima dois polos radicais da arte, o humor e o canto lírico.

O humor corre por conta de Henry Mchenry (Adam Driver) e seu sucesso enorme parece provir da capacidade de agredir seu público. Seu grande amor, Ann (Marion Cotillard), é a soprano. Morre e ressuscita todas as noites, avisa Henry. Morre ao cantar e ressuscita para receber o aplauso consagrado­r do público. São dois artistas do espetáculo, fazem enorme sucesso, vão se casar e ter uma filha, Annette.

O produto desse amor louco nos lança em outro território, o do horror. Annette não é bem uma criança, mas uma boneca. À maneira dos bonecos aterroriza­ntes de tantos outros filmes. Bonecas, palhaços, também podem proporcion­ar efeito contrário. É o caso de Henry, palhaço que se revelará não só agressivo, mas aterroriza­nte. Suas fantasias sobre a morte, cada vez mais claras, e também sobre a vida pairam como um perigo permanente sobre ele e sobre os outros. O público agora o vaia. Até que Ann morre. Sua morte será um problema para o público que a ama. Quem, agora, morrerá por ele, todas as noites?

O espírito sobreviver­á na boneca para assombrar o torturado Henry. Ao mesmo tempo, o filme chega à plenitude do artifício —a pequena Annette se revela uma grande cantora. Henry agora se prepara para explorar “o fenômeno” da bebê cantora, com a cumplicida­de do exacompanh­ante de Ann, desde sempre apaixonado pela cantora e que também se tem na conta de possível pai de Annette.

“Annette” transita do feliz ao trágico. O mundo de então já não era inocente. O mundo de hoje, aos olhos de Carax, é uma massa sem desejo real, destino, ou direção. Para resumir, “Annette” é um belo filme, talvez uma obra-prima. (Folha)

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