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Os novos protagonis­tas

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Dos 456 jogadores da terceira rodada da fase de grupos da Liga dos Campeões da Europa, 47 são brasileiro­s (10,3%). Mais do que os 37 espanhóis, 33 portuguese­s, 28 franceses, 27 ingleses, 24 alemães e holandeses e 19 italianos.

Outra vez, o Brasil foi a nacionalid­ade mais escalada, embora nenhum time daqui jogue a Champions League. Há três times de Portugal, um da Holanda, quatro de Espanha, Inglaterra, Itália e Alemanha.

A lista não inclui naturaliza­dos, como Pepe, Matheus Nunes e Otávio, agora portuguese­s, Jorginho, italiano de Santa Catarina, e Marlos, ucraniano do Paraná.

Cada vez mais o Brasil perde jogadores para outras seleções. Também é mais frequente discutir se os nascidos do lado de cá do Atlântico têm protagonis­mo na Europa, porque só Neymar parece ser do nível de Messi e Cristiano Ronaldo.

A rodada da Liga dos Campeões serve para debater essa tese. Os jovens Vinicius Jr e Rodrygo, autores de três dos cinco gols do Real Madrid na goleada sobre o Shakhtar Donetsk, são coadjuvant­es de Benzema e ajudam a refletir sobre o atual papel dos brasileiro­s na elite do jogo.

Há três anos, o centroavan­te francês era o coadjuvant­e de Cristiano Ronaldo, amado pelos treinadore­s, detestado pelos críticos. Benzema é artilheiro e líder de assistênci­as do Campeonato Espanhol, com nove gols. Esperança merengue no clássico contra o Barcelona, neste domingo (24), ele marcou duas vezes na Liga dos Campeões, torneio em que também deu um passe decisivo.

Seu coadjuvant­e de luxo é Vinicius Jr, 21 anos, sete gols e três assistênci­as na temporada.

Pela seleção, Vinicius tem seis atuações, nenhum gol, foi escalado fora de posição e goza do respeito da comissão técnica. É visto como um diamante a ser lapidado, por ser ainda mais jovem do que meninos que têm deslanchad­o mais rapidament­e com Tite, como Antony (21), Raphinha (24) ou Militão (23).

A Liga dos Campeões expõe brasileiro­s de todos os tipos. Craques, como Neymar, ausente na rodada por lesão; candidatos a protagonis­tas, como Vinicius Jr e Rodrygo; zagueiros brilhantes, como Thiago Silva, do Chelsea; reservas, como Éverton

Cebolinha, do Benfica; trabalhado­res, como o lateral Fernando Costanza, ex-botafogo, hoje no Sheriff, da Moldávia; ou os que preferem mudar de nacionalid­ade, como os novos convocados da seleção portuguesa, Otávio e Matheus Nunes.

Parece justo pensar que não revelamos mais Romário e Ronaldo. Não convém esquecer que, depois de Messi e Cristiano Ronaldo, os melhores do mundo eleitos pela Fifa foram Modric e Lewandowsk­i, estrelas de classes diferentes do argentino e do português.

O Brasil precisa fazer seu campeonato nacional ser mais relevante, necessita voltar a ser campeão mundial, ser novamente um centro de cultura do futebol. Mas, uma coisa não falta: talento.

Impression­a olhar a França com Mbappé, Pogba, Benzema e Griezmann. Tite não parece ter quatro tão decisivos quanto Didier Deschamps. Ou dois, como a Bélgica de Lukaku e De Bruyne.

Pode ser questão de tempo. A um ano do penta, o Brasil perdeu para Honduras e o debate era sobre a falta de jogadores extra-classe. É ridículo lembrar disso, 20 anos depois de ganhar a Copa do Mundo com Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho.

Vinicius Jr e Rodrygo podem passar de coadjuvant­es a protagonis­tas tão rapidament­e quanto Benzema conseguiu, depois de sair da sombra de Cristiano Ronaldo. A Liga dos Campeões nos mostrou, outra vez nesta semana, que o problema do Brasil não é a falta de grandes jogadores nos gramados.

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