Agora

Ator argentino fala sobre seu personagem em ‘Parot’

Disponível no Paramount+, produção espanhola tem roteiro premiado

- TONY GOES

ANÁLISE

Em 2006, o Tribunal Supremo da Espanha (equivalent­e ao nosso STF) julgou um recurso apresentad­o por Henri Parot, um ex-integrante do ETA condenado a 26 penas diferentes. Somadas, elas chegavam a 4.800 anos de prisão.

O terrorista queria que elas fossem reunidas numa única condenação e que pudesse ser libertado ao completar 30 anos de encarceram­ento —a pena máxima prevista pela legislação espanhola.

A corte decidiu exatamente o contrário, gerando assim uma jurisprudê­ncia conhecida como Doutrina Parot, que retardava a libertação de prisioneir­os condenados por crimes graves, como atentados e estupros.

No entanto, em 2013, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos anulou essa doutrina, levando à soltura imediata de quase uma centena de presos. A comoção foi geral, porque violadores e assassinos de crianças de repente voltaram à circulação.

Este é o pano de fundo da série espanhola “Parot”, cuja primeira temporada está disponível na plataforma Paramount+. Na trama, acontece algo que não ocorreu na vida real: um misterioso mascarado começa a eliminar alguns dos criminosos libertados, matando-os da mesma maneira como eles mataram suas vítimas.

A polícia sai, então, em busca desse vingador. Ao mesmo tempo, a inspetora Isabel Mora (Adriana Ugarte) se vê perseguida pelo mesmo homem que a violentou quando ela era adolescent­e.

Essa dubiedade deu a “Parot” o prêmio de melhor roteiro no Festival de Séries de Berlim, no início deste ano. E nenhum personagem é tão dúbio quanto Roberto Plaza, um exprisione­iro condenado por estupro e assassinat­o, vivido pelo ator argentino Michel Brown.

“O espectador não sabe se fica com raiva do personagem ou se tem vontade de lhe dar um abraço”, comenta Brown. Plaza precisa de ajuda psiquiátri­ca para se reintegrar à sociedade e é atendido pela terapeuta Andrea Llanes —justamente a mãe de Isabel Mora. Não demora para ele se envolver com a médica. “É a relação mais distorcida que eu já vivi numa série”.

Um personagem tão complexo geralmente demanda tempo para o ator construí-lo, mas a pandemia não permitiu isto. “Não ensaiamos muito”, conta Brown, que passou três meses em Madri rodando “Parot”, no final de 2021. Ele acrescenta que já admirava a atriz espanhola Blanca Portillo, que interpreta Andrea, mas nunca tinham trabalhado juntos. “É um monstro como profission­al. Muito generosa e sempre disposta a arriscar”.

Para completar, logo no primeiro dia o diretor pediu que Brown tentasse algo contrário ao que o ator havia imaginado: que fizesse de Roberto Plaza um tipo atormentad­o, frágil, pouco seguro de si. “Na hora eu me assustei, mas deu certo. A minha própria vulnerabil­idade como ator contribuiu.”

Depois de uma sequência de vilões e figuras sombrias —recentemen­te ele encarnou o violento conquistad­or espanhol Pedro de Alvarado na série “Hernán”, sobre a conquista do império asteca—, o ator sorri aliviado quando lembra que seu último trabalho foi uma comédia, a ainda inédita “Cecilia”. “Essa variedade é justamente o que nós, atores, buscamos.”

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Divulgação Michel Brown na série inspirada na Doutrina Parot, que retardava a libertação de prisioneir­os condenados por crimes graves

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