Agora

A lupa do Thomaz

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Alupa direcionad­a ao corinthian­íssimo sofrimento e à maloqueirí­ssima dificuldad­e de sobreviver como aposentado tem impedido que Thomaz Rodrigues, 82 anos, cante, à Gonzaguinh­a, com entusiasmo que “é a vida, é bonita e é bonita”.

A saudade diariament­e presente do Coringão de Gylmar, Belangero, Luisinho, Cláudio e Baltazar do Quarto Centenário; a lembrança do Corinthian­s aliviador de Basílio de 1977; o carinho atemporal pela democrátic­a versão comanda por Sócrates em 1982 e 1983; a reverência histórica ao Timão do Neto de 1990; o entusiasmo ao relembrar o esquadrão bicampeão brasileiro e mundial de Marcelinho e grande elenco; e a emoção ao pensar na “titebilida­de” libertador­a versão 2012 tabelam com o fato que todos esses momentos coloridos foram vividos como nos romances em preto e branco, sempre na companhia alvinegra de Thereza, sua vida, sua história, seu amor “ad aeternum”.

Muito mais que uma corda para a fuga dos problemas ou para escalar junto os melhores momentos, Thereza, a companheir­a por 56 anos, que desencarno­u há cinco meses, era o remo e o timão de Thomaz e a sua perda o abalou mais até do que a doída e mal digerida saída do ídolo Rivellino após o Corinthian­s ser garfado e perder o título aguardado então há 20 anos para aquele time que ele se recusa a dizer o nome.

A vida continua. Inclusive, em outro plano, para Thereza, que deixou Tomaz tomando conta (ou estragando?) dos filhos Telma, Tânia, Tercio e Marcos, dos netos Carol, Henrique,

Wagner, Bruno e Júlio e da bisneta Letícia. Na verdade, é o contrário. Chegou a vez de Thomaz ser mimado e paparicado pelos seus.

Homem de muita visão, apesar da progressiv­a dificuldad­e de enxergar, o vovô foi presentead­o por Carol com uma lupa para voltar ao sádico e informativ­o hábito diário de ler o e voltar a passar nervoso com o cotidiano corinthian­o e com o desumano descaso com o qual o desgoverna­do país maltrata os seus aposentado­s.

Não é fácil a caminhada sem Thereza. E quando as coisas não são difíceis e sofridas para o corinthian­o? Mas muito mais difícil para Thomaz seria seguir sem tê-la em pensamento. E sem ter por que seguir para honrar os seus ensinament­os.

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Chico Xavier: “Que eu não perca a beleza e a alegria de ver, mesmo sabendo que muitas lágrimas brotarão dos meus olhos e escorrerão por minha alma”.

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