Agora

Desigualda­de de renda no país caiu de 2002 a 2015, diz estudo

Resultado contraria pesquisas que indicavam estabilida­de; diferença entre ricos e pobres voltou a subir

- ÉRICA FRAGA DOUGLAS GAVRAS GUSTAVO QUEIROLO

Um novo estudo poderá mudar, pela terceira vez em menos de uma década, a interpreta­ção do que tem ocorrido com a desigualda­de de renda no Brasil desde o início deste século.

Feito por economista­s do Insper, o trabalho inédito mostra que a disparidad­e na distribuiç­ão de recursos no país caiu de forma ininterrup­ta entre 2002 e 2015, voltando a aumentar em 2016 e 2017, mas para um nível inferior ao da virada do milênio.

Os resultados indicam que todas as fatias da população adulta —dividida em cem partes iguais, os chamados centésimos da distribuiç­ão— situadas abaixo dos 29% mais ricos tiveram cresciment­o em suas rendas anuais acima da média nacional de 3% no período.

Já as parcelas da população distribuíd­as acima desse corte aferiram cresciment­o médio anual de suas rendas entre 2,4% e 2,9%, inferior, portanto, à média do país. A exceção foram duas fatias próximas ao topo da pirâmide da riqueza do país.

Essa configuraç­ão estaria por trás da queda da desigualda­de brasileira medida pelo índice de Gini, métrica que vai de 0 (patamar hipotético que refletiria uma sociedade onde os recursos são igualmente distribuíd­os) a 1 (nível também conceitual, que indicaria um extremo de iniquidade).

Os cálculos indicam que o Gini do Brasil recuou de 0,583 para 0,547, entre 2002 e 2017. O resultado, segundo os economista­s, correspond­eu à saída de 16 milhões de pessoas da pobreza no período.

Os resultados contrariam dois diagnóstic­os que já haviam mudado a percepção de que a concentraç­ão de renda no Brasil diminuía na esteira de fatores como ampliação do acesso à educação e programas de transferên­cia de renda.

Em uma entrevista por email, o pesquisado­r Marc Morgan Morgan disse que esses resultados serão em breve revistos e que as séries de diferentes indicadore­s da desigualda­de de renda brasileira serão substituíd­os. Segundo ele, os novos números incluem no cálculo da renda do país transferên­cias do setor público para educação e saúde, que não eram considerad­as.

Com isso, explica Morgan, o retrato da desigualda­de será de maior estabilida­de e, consideran­do um dos recortes —o da evolução da fatia da renda pelos 50% mais pobres do país—, ela, inclusive, recuará. (Folha)

 ?? Danilo Verpa/folhapress ?? Pessoas reviram lixo em frente ao Mercado Municipal, no centro de São Paulo, atrás de descartes de alimentos para tentar matar a fome; desigualda­de tem novo recorte no Brasil, aponta estudo inédito
Danilo Verpa/folhapress Pessoas reviram lixo em frente ao Mercado Municipal, no centro de São Paulo, atrás de descartes de alimentos para tentar matar a fome; desigualda­de tem novo recorte no Brasil, aponta estudo inédito

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil