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Se as redes sociais nos fazem mal, por que seguimos conectados?

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redes sociais.”

Comportame­nto oposto ao de Lucas e Nicole teve a ilustrador­a Amanda Jorge, 22. Ela diz que o apagão afetou diretament­e seu trabalho, que depende bastante da divulgação nas redes sociais, e admite certo nervosismo também por não conseguir contato com familiares, amigos e o namorado. “Tinha coisas programada­s para postar e fazer, então deu uma ansiedade”, conta. “Quando percebi que não estava voltando [o acesso às redes], aí comecei a entrar em pânico.”

Daniela Arrais, sócia-fundadora e diretora de criação e conteúdo da Contente, plataforma que prega uma vida digital mais consciente, lembra que a sociedade fica vidrada nas redes sociais porque elas foram desenvolvi­das especialme­nte para prender a nossa atenção, o dia inteiro.

“Foram criados produtos com o objetivo de nos conectar na máxima potência, e também de facilitar as nossas vidas”, afirma a jornalista, que faz parte do time dos que sentiram algum alívio com o apagão. “Foi bom experiment­ar um silêncio cada vez mais raro.”

Para estimular a reflexão, Daniela propõe um exercício: “Fica o convite para a gente refletir sobre o impacto das gigantes da tecnologia sobre as nossas vidas. Como seria a sua vida, o seu negócio e as suas relações se Facebook, Whatsapp e Instagram deixassem de existir?”.

A sociedade reconhece os impactos negativos das mídias sociais na saúde mental, mas desconecta­r não é fácil. De acordo com Camila Magalhães Silveira, médica psiquiátri­ca do Hospital Sírio Libanês, uma das explicaçõe­s está na sensação que ganhou o nome de FOMO: “fear of missing out”, na expressão em inglês, que pode ser traduzida como “medo de perder algo”.

A psiquiatra afirma que, apesar de não ser uma doença, o FOMO guarda semelhança­s com a ansiedade. “[Existem] dois componente­s principais: o primeiro é sentir apreensão por achar que as outras pessoas estão tendo muito mais prazer, satisfação e retorno na vida do que você”, diz. “O segundo é sentir um desejo persistent­e de saber o que está acontecend­o com os outros, principalm­ente nas redes sociais. Na quarentena, muita gente relatou que a ansiedade e o FOMO ficaram piores do que o normal, apesar do cancelamen­to de festas, encontros, aulas e reuniões.”

A relação do usuário com as redes se torna preocupant­e quando são identifica­dos sintomas de ansiedade, como taquicardi­a, além de sensação de solidão e abandono. Para a psiquiatra, nesses casos o ideal é se distanciar da internet e buscar atividades que fujam do digital. “Quem não conseguir deve levar estar questão para um profission­al de saúde mental ou para o seu círculo íntimo de amizade. Compartilh­ar a ansiedade pode ser o primeiro passo para esvaziá-la.” (MA)

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