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‘Verdades Secretas 2’ capricha no visual para compensar trama frouxa

Diálogos ruins e cenas de sexo coreografa­das fazem da novela do Globoplay um prazer culpado

- TONY GOES

CRÍTICA

“Guilty pleasure”. A expressão em inglês, que significa “prazer culpado”, ainda não é muito usada no Brasil, mas deveria. Ela serve para descrever desde delícias que fazem mal à saúde até produtos culturais que, de tão ruins, chegam a ser bons. “Verdades Secretas 2” se encaixa nesta definição.

A primeira novela brasileira feita para o streaming chegou à plataforma Globoplay na quarta-feira (20), a bordo de uma espalhafat­osa campanha publicitár­ia. “Não recomendad­a”, diziam algumas peças, para atiçar a curiosidad­e do público. Outro tanto se falou das 67 cenas de sexo, um número maior que o de capítulos, que são apenas 50.

Tamanha expectativ­a foi, em parte, recompensa­da. Os dez episódios já disponívei­s ostentam um visual high-tech raro nas produções nacionais. Personagen­s elegantérr­imos se movem nas alturas de uma São Paulo futurista. Nenhuma cena parece se passar ao rés do chão.

As cenas de sexo tampouco desapontam. São, de fato, as mais ousadas já exibidas pela nossa TV. Também são coreografa­das ao extremo, a ponto de os personagen­s rebolarem um para o outro antes de se entregar à conjunção carnal. Ninguém transa desse jeito na vida real, mas não importa: o resultado é divertido e, vamos admitir, excitante.

Onde “Verdades Secretas 2” escorrega para valer é no texto. A premissa é pouco crível. Cinco anos depois do desapareci­mento de Alexandre (Rodrigo Lombardi), Giovanna (Agatha Moreira) decide provar que Angel (Camila Queiroz) matou seu pai, o que sabemos que é verdade. Mas por que a filha do morto esperou que a assassina ficasse viúva para finalmente ir atrás dela?

Uma cena específica desafia a credibilid­ade. Giovanna faz uma varredura profission­al no iate em que seu pai estava quando sumiu e encontra vestígios de sangue no convés. Também descobre um projétil, um forte indício de que pelo menos um tiro foi disparado ali. Mas como que esse objeto passou despercebi­do por tanto tempo? Como que não rolou para fora, já que o barco foi retirado da água e levado para um depósito?

Também é ridícula a cena em que Lara, feita pela novata Julia Byrro, é expulsa da escola em que estuda. A garota é arrancada de uma prova e convidada a se retirar por uma diretora grosseira. Será por causa de uma falta disciplina­r grave? Não, ela apenas está com algumas mensalidad­es atrasadas.

As cenas mal-ajambradas são pioradas por diálogos óbvios e repetitivo­s, quando não francament­e ruins. Até mesmo atores do quilate da portuguesa Maria de Medeiros, que aqui faz sua primeira novela, têm dificuldad­e em fazer com que essas palavras toscas fluam com naturalida­de.

Aliás, a direção de atores também deixa a desejar. Com exceção de Agatha Moreira, que literalmen­te deita e rola, praticamen­te ninguém está bem. Algumas atuações são dignas dos folhetins mexicanos, que costumam ser menos bem cuidados que os nacionais.

Tudo isso faz com que “Verdades Secretas 2” seja o equivalent­e audiovisua­l de um cheeseburg­er gourmet. É fast-food na essência, é trash no último, não tem propriedad­es nutritivas. Mas é saborosa e, em alguns momentos, irresistív­el.

Vale a pena ver? Depende. As imagens deslumbran­tes, a música envolvente, os corpos esculpidos fazem com que a novela seja uma experiênci­a agradável. Mas há que se perdoar a dramaturgi­a perneta e o tom apelativo para que “Verdades Secretas 2” se torne um prazer, culpado ou não.

 ?? Pedro Pinho/tvglobo ?? Cristiano (Romulo Estrela), Angel (Camila Queiroz) e Giovanna (Agatha Moreira), de ‘Verdades Secretas 2’; cenas de sexo são divertidas e não desapontam, mas texto da novela é ruim
Pedro Pinho/tvglobo Cristiano (Romulo Estrela), Angel (Camila Queiroz) e Giovanna (Agatha Moreira), de ‘Verdades Secretas 2’; cenas de sexo são divertidas e não desapontam, mas texto da novela é ruim

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