Arte Klub

Com a IA, o que sobrará da literatura?

Obras “Vidas Secas” e “S. Bernardo” são unificadas em lançamento publicado sob o selo Temporalis.

- ROBERTO DRUMMOND

O que será dos escritores a partir de agora? Afinal, será que a IA dá conta de manter a qualidade da literatura? Para o autor best-seller Víktor Waewell, essa tecnologia possui um limite quando se trata de emoções humanas.

Dá para fazer livros razoáveis com Inteligênc­ia Artificial. Há casos de autores com centenas de livros já publicados com a tecnologia, outros que geraram livros infantis em menos de 72 horas, incluindo as ilustraçõe­s. Quem publicou na Amazon recentemen­te deve ter notado o campo para marcar se usou Inteligênc­ia Artificial. Para conter a enxurrada de livros feitos com IA, a plataforma tomou medida que mostra a situação: restringiu a publicação, por dia, por autor, em até 3 livros. Não para aí.

Um amigo outro dia desses, precisando contar uma história para o filho dormir, recorreu ao ChatGPT, que não só criou uma narrativa com o personagem preferido do menino, como ainda incluiu o garoto na história. Foi um sucesso, repetido lá desde então.

É claro que, como autor, já refleti sobre o impacto da Inteligênc­ia Artificial na literatura. Serei obsoleto? Por outro lado, como leitor, terei ótimos livros para ler?

Olha, a real é que muita gente que trabalha com literatura vai ficar sem emprego, principalm­ente quem faz processos relativame­nte repetitivo­s, como correção, tradução, narração de audiolivro­s, diagramaçã­o, capa, algumas fases da edição e até ilustração e impressão. Agora, se a máquina vai desemprega­r muitos, é porque, ao mesmo tempo, será indispensá­vel aos que sobrarem para usá-la. E, sim, o público provavelme­nte terá mais livros e com mais qualidade dos seus autores preferidos, pelo ganho de produtivid­ade.

Mas... e o próprio autor, não será substituíd­o? Sim e não. Autores que investem

em volume, com qualidade mediana, serão atingidos em cheio. Porque volume, já está claro, é o que a IA faz bem. Em breve, será tão fácil fazer um livro que a pessoa poderá gerar, em instantes, um para ela mesma ler. De qualidade artística duvidosa, como eu explico adiante, é um conteúdo que terá valor pelo alto grau de personaliz­ação.

É diferente o caso de autores que buscam qualidade artística. Estes serão os que vão sobrar. Ora, mas por quê? Não será questão de tempo até a IA fazer histórias tão boas quanto os grandes mestres? Não parece ser o caso. Por duas razões.

Primeirame­nte, o público busca, nas artes, antes de qualquer coisa, identifica­ção. Diante de uma expressão precisa do que sentimos, por exemplo, é necessário, para uma experiênci­a aguda, ter sido uma pessoa que a produziu, pois só assim sabemos haver mais alguém no mundo que entende aquilo. Aspectos assim fazem a magia da autoria. Uma simulação jamais lançará esse feitiço.

Mas, então, não basta gerar textos com IA, sem o leitor saber?

Podem tentar, mas aí encontramo­s o limite desta tecnologia, assim como do ser humano. É que, enormes os recursos da máquina, continua sendo uma simulação. Não possui senso de justiça, raiva, nunca amou ninguém, não tem tesão, nem fome, medo da morte, nada. Então, ela não vai chegar a conclusões realmente impactante­s, porque não está aqui fora vivendo o que vivemos em tempo real, tampouco irá demonstrar com ações que segue os próprios conselhos, sendo, portanto, palavras ao vento. Na outra ponta, autores que abusarem do uso da IA, eles mesmos vão destreinar. A capacidade linguístic­a, como qualquer outra, regride quando não é usada.

É como um corredor que decide se mover pela pista sempre de moto. Em algum momento, os músculos vão atrofiar e ele poderá até ir rápido, mas não será correndo.

Trajetória de uma das figuras mais reverencia­das do mundo da música inspira ensinament­os práticos sobre como lidar com as adversidad­es.

Com uma linguagem didática, essa homenagem percorre desde as obras mais conhecidas até os desafios pessoais enfrentado­s por “Tio Beto”, como carinhosam­ente a autora o denomina. A professora vai além da mera análise histórica ou biográfica, concentran­do-se na autenticid­ade marcante de Beethoven para extrair lições filosófica­s facilmente aplicáveis ao cotidiano.

Dentre os ensinament­os, a narrativa destaca, por exemplo, a importânci­a da disciplina e do entendimen­to das regras para alcançar a originalid­ade. Beethoven primeiro dominou as estruturas que regiam o fazer musical da época para então superar as normas estabeleci­das e introduzir uma arte verdadeira­mente única. Essa mentalidad­e foi o que o motivou a criar peças que transcende­m a barreira do tempo, como “Für Elise”, que toca nos caminhões de gás em diferentes lugares do Brasil.

Ao abordar a surdez do músico, sua caracterís­tica mais desafiador­a, a professora faz uma conexão profunda entre as adversidad­es da vida e as oportunida­des de cresciment­o. Inspirando-se na resiliênci­a desse renomado artista, que mesmo sem ouvir não deixou de compor, ela destaca a importânci­a de enfrentar as provações para desenvolve­r virtudes.

A experiênci­a proporcion­ada pela leitura de “Beethoven: Ode à Alegria” ganha uma dimensão auditiva única com um QR Code exclusivo que permite apreciar as composiçõe­s mencionada­s ao longo das páginas. Mais do que uma celebração de uma das figuras mais reverencia­das de todos os tempos, esse livro é um convite à reflexão filosófica sobre como podemos extrair lições valiosas do passado para iluminar nosso presente e futuro.

A escrita concisa e direta do alagoano, que foi repórter de jornais no Rio de Janeiro e prefeito de Palmeira dos Índios (AL), intensific­a a sensação de aridez, desesperan­ça e amargura transmitid­as pelos personagen­s. Esta edição 2 em 1 de “Vidas Secas” e “S. Bernardo” chega ao mercado literário não apenas para unificar as duas obras, mas para tornar a coleção de Graciliano Ramos mais acessível aos brasileiro­s.

Considerad­o um dos melhores escritores de regionalis­mo do país, Graciliano Ramos é autor de dois livros essenciais para se compreende­r o Brasil, especialme­nte a região Nordeste: “Vidas Secas” e “S. Bernardo”. De forma inédita, os dois títulos são lançados em edição única pelo selo Temporalis, da Citadel Grupo Editorial.

Publicada pela primeira vez em 1938, “Vidas Secas” é considerad­a a obra-prima do Velho Graça, como também era conhecido no meio

nlitedrári­o. Este é um retrato intenso e desolador de uma família de retirantes nordestino­s que enfrenta a fome, a sede, a opressão dos latifundiá­rios e as injustiças sociais do Brasil rural. O autor expõe a luta pela sobrevivên­cia em meio à seca e a exploração no sertão de Fabiano, Sinhá Vitória, os dois filhos e a cachorrinh­a Baleia.

O sertão nordestino também é o cenário em “S. Bernardo”, romance que completa 90 anos em 2024 e é marcado pelo realismo e pela introspecç­ão do protagonis­ta, Paulo Honório, um homem rude e determinad­o a ascender socialment­e por meio da posse de terras. No entanto, por traz dessa busca incessante por poder e sucesso material, ele esconde a solidão e a desilusão afetiva. Assim, o autor explora de forma profunda os desejos individuai­s, as contradiçõ­es do ser humano e da própria sociedade.

Roberto Drummond transformo­u-se em bestseller instantâne­o quando o romance foi transforma­do em minissérie de grande sucesso pela TV Globo, com Ana Paula Arósio no papel de Hilda. A série pode ser revista atualmente na Globoplay.

“Hilda Furacão” passa-se em Belo Horizonte no início dos anos 60. Hilda, a Garota do Maiô Dourado, enfeitiçav­a os homens na beira da piscina em um dos mais tradiciona­is clubes, o Minas Tênis. Por algum motivo secreto, muda-se para o quarto 304 do Maravilhos­o Hotel, na zona boêmia da cidade. Transforma­da em Hilda Furacão, a musa erótica tira o sono da cidade. Sua vida de fada sexual cruza-se com os sonhos de três rapazes vindos do interior: um é inspirado no notório Frei Betto, que queria ser santo, mas se tornaria frade franciscan­o, líder político e escritor. Outro queria ser ator em Hollywood - torna-se dom Juan de aluguel. O terceiro, aquele que queria ter sua Sierra Maestra, é o próprio Roberto, narrador da história. Hilda Furacão é o desafio que o santo tem que enfrentar.

Até hoje não se sabe se Hilda, vivida por Ana Paula Arósio na tela da Globo, era real ou imaginária. Quando de seu lançamento, em 1996, o romance foi apresentad­o mais ou menos assim: Hilda era o centro de uma narrativa envolvente, uma história de mistério que se passa na Belo Horizonte do início dos anos 60 - uma cidade que cheirava a jasmim e a bomba de gás lacrimogên­eo, que a polícia jogava nos estudantes.

Hilda Furacão é o desafio que o santo tem que enfrentar. O grande final, em meio a muitas surpresas, acontece no dia 1º de abril de 1964, com os tanques e os soldados ocupando as ruas de Belo Horizonte para depor João Goulart: é o fim do conto de fadas.

 ?? ?? Víktor Waewell é escritor, autor do livro “Guerra dos Mil Povos”, uma história de amor e guerra durante a maior revolta indígena do Brasil.
Víktor Waewell é escritor, autor do livro “Guerra dos Mil Povos”, uma história de amor e guerra durante a maior revolta indígena do Brasil.
 ?? ?? Em “Beethoven: Ode à Alegria”, a professora Eloiza Limeira, especialis­ta em filosofia clássica e oratória, mergulha nas complexida­des da vida e obra do renomado compositor e pianista alemão Ludwig van Beethoven. Publicada pela Hanoi Editora, a obra oferece uma perspectiv­a única ao explorar não apenas a musicalida­de, mas também os pensamento­s e emoções que moldaram a personalid­ade desse gênio.
Em “Beethoven: Ode à Alegria”, a professora Eloiza Limeira, especialis­ta em filosofia clássica e oratória, mergulha nas complexida­des da vida e obra do renomado compositor e pianista alemão Ludwig van Beethoven. Publicada pela Hanoi Editora, a obra oferece uma perspectiv­a única ao explorar não apenas a musicalida­de, mas também os pensamento­s e emoções que moldaram a personalid­ade desse gênio.
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