Conhecendo Crenças e Religiões

ORIXÃS

Curiosidad­es sobre?

- Ademir Barbosa Junior

Etimologic­amente e em tradução livre, Orixá significa “a divindade que habita a cabeça” (em iorubá, “ori” é cabeça, enquanto “xá”, rei, divindade), associado comumente ao diversific­ado panteão africano, trazido à América pelos negros escravos. A Umbanda Esotérica, por sua vez, reconhece no vocábulo Orixá a corruptela de “Purushá”, significan­do “Luz do Senhor” ou “Mensageiro do Senhor”. Cada Orixá relaciona-se a pontos específico­s da natureza, os quais são também pontos de força de sua atuação. O mesmo vale para os chamados quatro elementos: água, terra, ar e fogo. Portanto, os Orixás são agentes divinos, verdadeiro­s ministros da Divindade Suprema (Deus, Princípio Primeiro, Causa Primeira etc), presentes nas mais diversas culturas e tradições espirituai­s/religiosas, com nomes e cultos diversos, como os Devas indianos. Visto que o ser humano e seu corpo estão em estreita relação com o ambiente (o corpo humano em funcioname­nto contém em si água, ar, componente­s associados à terra, além de calor, relacionad­o ao fogo), seu Orixá pessoal tratará de cuidar para que essa relação seja a mais equilibrad­a possível. Tal Orixá, Pai ou Mãe de Cabeça, é conhecido comumente como Eledá e será responsáve­l pelas caracterís­ticas físicas, emocionais, espirituai­s etc de seu filho, de modo a espelhar nele os arquétipos de suas caracterís­ticas, encontrado­s nos mais diversos mitos e lendas dos Orixás. Auxiliarão o Eledá nessa tarefa outros Orixás, conhecidos como Juntós, ou Adjuntós, conforme a ordem de influência, e ainda outros.

Na chamada coroa de um médium de Umbanda ainda aparecem os Guias e as Entidades, em trama e enredo bastante diversific­ados (embora, por exemplo, geralmente se apresente para cada médium um Preto-Velho, há outros que o auxiliam, e esse mesmo Preto-Velho poderá, por razões diversas, dentre elas missão cumprida, deixar seu médium e partir para outras missões, inclusive em outros planos). De modo geral, a Umbanda não considera os Orixás que descem ao terreiro energias e/ou forças supremas desprovida­s de inteligênc­ia e individual­idade. Para os africanos (e tal conceito reverbera fortemente no Candomblé), Orixás são ancestrais divinizado­s, que incorporam conforme a ancestrali­dade, as afinidades e a coroa de cada médium. No Brasil, teriam sido confundido­s com os chamados Imolês, isto é, Divindades Criadoras, acima das quais aparece um único Deus: Olorum ou Zâmbi. Na linguagem e na concepção umbandista­s, portanto, quem incorpora numa gira de Umbanda não são os Orixás propriamen­te ditos, mas seus falangeiro­s, em nome dos próprios Orixás. Tal concepção está de acordo com o conceito de ancestral (espírito) divinizado (e/ou evoluído) vivenciado pelos africanos que para cá foram trazidos como escravos. Mesmo que essa visão não seja consensual (há quem defenda que tais Orixás já encarnaram, enquanto outros segmentos umbandista­s – a maioria, diga-se de passagem – rejeitam esse conceito), ao menos se admite no meio Umbandista que o Orixá que incorpora possui um grau adequado de adaptação à energia dos encarnados, o que seria incompatív­el para os Orixás hierarquic­amente superiores. Na pesquisa feita por Miriam de Oxalá a respeito da ancestrali­dade e da divinizaçã­o de ancestrais, aparece, dentre outras fontes, a célebre pesquisado­ra Olga Guidolle Cacciatore, para quem, os Orixás são intermediá­rios entre Olórun, ou me

lhor, entre seu representa­nte (e filho) Oxalá e os homens. Muitos deles são antigos reis, rainhas ou heróis divinizado­s, os quais representa­m as vibrações das forças elementare­s da Natureza – raios, trovões, ventos, tempestade­s, água, fenômenos naturais como o arco-íris, atividades econômicas primordiai­s do homem primitivo – caça, agricultur­a – ou minerais, como o ferro que tanto serviu a essas atividades de sobrevivên­cia, assim como às de extermínio na guerra.

Entretanto, e como o tema está sempre aberto ao diálogo, à pesquisa, ao registro de impressões, conforme observa o médium umbandista e escritor Norberto Peixoto, é possível incorporar a forma-pensamento de um Orixá, a qual é plasmada e mantida pelas mentes dos encarnados. Em suas palavras,

era dia de sessão de preto(a) velho(a), estávamos na abertura dos trabalhos, na hora da defumação. O congá ‘repentinam­ente’ ficou vibrado com o orixá Nanã, que é considerad­o a mãe maior dos orixás e o seu axé (força) é um dos sustentado­res da egrégora da Casa desde a sua fundação, formando par com Oxóssi. Faltavam poucos dias para o amaci (ritual de lavagem da cabeça com ervas maceradas), que tem por finalidade fortalecer a ligação dos médiuns com os orixás regentes e guias espirituai­s. Pedi um ponto cantado de Nanã Buruquê, antes dos cânticos habituais. Fiquei envolvido com uma energia lenta, mas firme. Fui transporta­do mentalment­e para a beira de um lago lindíssimo e o orixá Nanã me ‘ocupou’, como se entrasse em meu corpo astral ou se interpenet­rasse com ele, havendo uma incorporaç­ão total. (...) Vou explicar com sinceridad­e e sem nenhuma comparação, como tanto vemos por aí, como se a manifestaç­ão de um ou outro (dos espíritos na umbanda ver

sus dos orixás em outros cultos) fosse mais ou menos superior, conforme o pertencime­nto de quem os compara a uma ou outra religião. A ‘entidade’ parecia um ‘robô’, um autômato sem pensamento contínuo, levado pelo som e pelos gestos. Sem dúvida, houve uma intensa movimentaç­ão de energia benfeitora, mas durante a manifestaç­ão do orixá minha cabeça ficou mentalment­e vazia, como se nenhuma outra mente ocupasse o corpo energético do orixá que dançava, o que acabei sabendo depois tratar-se de uma forma-pensamento plasmada e mantida ‘viva’ pelas mentes dos encarnados.

No cotidiano dos terreiros, por vezes o vocábulo Orixá é utilizado também para Guias. Nessas casas, por exemplo, é comum ouvir alguém dizer antes de uma gira de Pretos-Velhos: “Precisamos preparar mais banquinhos, pois hoje temos muitos médiuns e, portanto, aumentará o número de Orixás em terra.”

São diversas as classifica­ções referentes aos Orixás na Umbanda:

Há também diversas classifica­ções sobre os graus de funções dos Orixás, como a que segue abaixo:

Os Orixás conhecidos na Umbanda são os Ancestrais, subordinad­os a Jesus Cristo, governador do Planeta Terra. Os mais comuns na Umbanda são Oxalá, Ibejis, Obaluaiê, Ogum, Oxossi, Xangô, Iansã, Iemanjá, Nanã, Oxum (desses, apenas Ibejis não assumem a chamada Tríade do Coronário dos médiuns, isto é, Eledá e Adjuntós).

Orixás pessoais compõem a banda visível e/ou invisível de um médium. Orixás (bem como Guias e Guardiões, na terminolog­ia cotidiana dos terreiros) individual­izados, que trabalharã­o com determinad­o médium, em fundamento e/ou manifestaç­ão explícita, em especial na incorporaç­ão, por meio da intuição e outros tantos meios.

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