Correio da Bahia

Ricardo Alban, da Fieb, fala sobre o momento da indústria no país

- Donaldson Gomes donaldson.gomes@redebahia.com.br

“Sem reversão de expectativ­as, vamos sentir saudades de 2015”, avisa o presidente da Fieb, Ricardo Alban. E olha que 2015 foi marcado por uma série de indicadore­s negativos. A crise na economia provocou queda de 7% nos repasses de recursos da folha de pagamento, o chamado compulsóri­o, para sustentar o Sistema S da indústria na Bahia. Mesmo assim, na próxima semana, a indústria vai absorver, através do mesmo Sistema S, R$ 1,8 bilhão em gastos do orçamento federal – sendo R$ 60 milhões, aproximada­mente, aqui na Bahia. A medida é exemplo do compromiss­o do setor com o país, diz Alban. “Nós estamos fazendo nossa parte. Agora, não aceitamos mais pagar a conta sozinhos”, avisa. “Como é que você consegue quebrar esse ciclo de negativida­de? Você precisa de credibilid­ade e implementa­r as ações certas”, aponta. Infelizmen­te, não é o que tem acontecido na maior parte dos casos, lamenta. Ele cita a insistênci­a em medidas como aumento de carga tributária - destaque para a “inaceitáve­l” CPMF, que o empresaria­do baiano como um todo quer ver definitiva­mente sepultada. Alban se diz preocupado com o projeto de lei que institui a cobrança de R$ 0,50 por metro quadrado nos distritos industriai­s do estado. Era esperado. Esta é a realidade da indústria brasileira há alguns anos, tirando a área de mineração, de commoditie­s. Agora, com a situação econômica se agravando para todos os setores, um pouco menos para a agropecuár­ia, tornou-se mais evidente. Óbvio que se agravou porque atingiu o consumo interno e se tornou mais grave, mas a situação da indústria brasileira é delicada há algum tempo. Então, essa crise ajuda a mostrar que não se pode ter economia forte sem uma indústria forte. O grande equívoco que eu vejo no Estado brasileiro é de ser maior do que a sociedade brasileira comporta. Precisa ser feito esse ajuste o mais rápido possível para que haja sustentabi­lidade no desenvolvi­mento econômico e para a governabil­idade. Se parar para analisar, vai ver que o sonho da maioria dos jovens é passar em concurso público. Isso é uma distorção, o setor público não gera riquezas. Formula políticas, é importante, mas não gera riquezas. Hoje o Brasil tem taxas de natalidade abaixo de 2%. Um país em desenvolvi­mento não pode se dar a este luxo. Isso gera problemas na Previdênci­a e torna urgente um projeto de reforma. Não ataca o cerne da questão. E não se pode fazer um diálogo desses olhando apenas a representa­ção dos trabalhado­res. É só um lado que se ouve? Não se deveria olhar também o setor produtivo? Quem é que contribui? Trabalhado­r e patrão. Por que não ouvir os empresário­s? Não se pode atender apenas um ator ou outro. O mesmo vale para reforma tributária, administra­tiva, que é tão crucial. Alguns estados, e a Bahia está incluída nisso, alguns municípios têm se esforçado. Assim como vimos Salvador tomar atitudes a respeito de despesas, temos visto o estado se movimentar. Pode ser mais? Sim. Não é fácil, mas se vê atitudes sendo tomadas. Precisamos dessas atitudes no Legislativ­o e Judiciário de forma única para mostrar à sociedade que há uma vontade de consertar este país. Você corrige os erros dando exemplos. Um termômetro que a gente tem e que não depende de estatístic­as de ninguém é a nossa arrecadaçã­o compulsóri­a, que incide sobre a folha de pagamento das indústrias. É um reflexo imediato e fácil de mensurar. Tivemos em 2015, na comparação com 2014, uma queda de 7%. A perspectiv­a para 2016, como a crise persis- te, é ruim. Muitos dizem que vamos sentir saudades de 2015.

Como é que você quebra uma expectativ­a? Com a volta da credibilid­ade, da confiança. Isso está ligado a pessoas e ações. Respeito se conquista, autoridade se impõe. Precisamos buscar o respeito. Não cabe mais isso. Definitiva­mente, não cabe mais a alternativ­a de aumentar arrecadaçã­o. Isso inviabiliz­a o setor produtivo. Torna as empresas ineficient­es e inviabiliz­a os negócios. Nesse ritmo, as em- A lei como um todo é tão surrealist­a que precisamos ter parâmetros para discussão. Em primeiro lugar, é óbvio que o valor financeiro embutido nesta taxa é totalmente inexequíve­l, porque é exorbitant­e. Isso para nós é líquido e certo. E tenho plena certeza de que o próprio governo hoje tem convicção disso. Quanto a isso, temos entendimen­to. Não dá nem para negociar esses valores. Mas é um fato também que os distritos industriai­s estão degradados, seja na manutenção das vias, iluminação, segu- O estudo foi pedido na época pela Secretaria de Indústria e Comércio [atual Desenvolvi­mento Econômico (SDE)]. Isso é algo que precisa ser discutido e se encontrar uma solução correta e inteligent­e, que não pode ter como base esses parâmetros que foram postos. Por lei, os distritos são responsabi­lidades do estado. E todos os municípios onde existem os distritos, mesmo cobrando IPTU, nunca prestaram os serviços de quem paga IPTU, que é iluminação pública, limpeza, etc.

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Ricardo Alban destaca esforço da indústria em assumir custos de serviços de responsabi­lidade do governo

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