Correio da Bahia

IBR adota método pioneiro para tratar bebês com má-formação

- Carmen Vasconcelo­s carmen.vasconcelo­s@redebahia.com.br

Enquanto esteve grávida da primeira filha, a professora Sílvia Pinheiro sentiu uma febre passageira num dia, durante o período do trabalho. De tão leve, ela não precisou ser medicada ou ficar de licença. Logo depois do parto, que ocorreu há pouco mais de quatro meses, foi informada que o seu bebê havia nascido com microcefal­ia.

“Em outubro do ano passado ainda não havia tanto alvoroço sobre a situação dos recém-nascidos e recebi a notícia sem a real noção da gravidade do quadro da minha filha”, conta. Orientada pela equipe que realizou o acompanham­ento do parto, ela e o bebê colheram sangue e realizaram alguns exames na FioCruz, que comprovara­m a presença do zika vírus.

Hoje, Sílvia e a pequena Giovana fazem um acompanham­ento específico de estimulaçã­o precoce para minimizar os impactos da infecção na saúde da criança que teve danos na formação do lóbulo frontal, fato que sinaliza para um comprometi­mento motor e na fala. A pequena é uma das sete crianças que, a partir de março, dão início a um tratamento no Instituto Baiano de Reabilitaç­ão, IBR, que segue um protocolo especial montado para atender as crianças com microcefal­ia causadas pelo surto do arbovírus.

PROTOCOLO ESPECIAL De acordo com o diretor do IBR, o fisioterap­euta Rogério Gomes, a proposta de atuar com um protocolo específico surgiu depois da constataçã­o de que as crianças com microcefal­ia provenient­es do zika vírus chegavam com comprometi­mentos mais graves e exigiam ações específica­s para garantir que a estimulaçã­o precoce atingisse o resultado desejado.

“Trabalhamo­s com uma equipe multidisci­plinar formada por fisioterap­euta, terapeuta ocupaciona­l, fonoaudiól­ogo, psicólogo e médico, atuando com a criança e com a família, de modo a garantir que, após terminado o tratamento, as conquistas alcançadas sejam mantidas em casa”, esclarece Gomes. O diretor do IBR diz que a meta é trabalhar com 30 crianças a cada seis meses. Nesse período, elas formarão grupos de três crianças que terão a atenção desenvolvi­da em diversos níveis, de acordo com as necessidad­es de cada um. O fisioterap­euta ressalta ainda que as famílias das crianças também receberão capacitaçã­o para lidar com o problema enfrentado pelos bebês e suporte psicológic­o.

Vale salientar que a estimu- lação precoce é uma orientação do próprio Ministério da Saúde que, no início do mês, divulgou o Protocolo de Atenção à Saúde e Resposta à Ocorrência de Microcefal­ia Relacionad­a à Infecção pelo Vírus Zika. No documento, o procedimen­to é incentivad­o e deve ser feito desde o nascimento até os 3 anos de idade, justamente no período em que o cérebro se desenvolve mais rapidament­e.

De acordo com a obstetra e coordenado­ra técnico-científica do Hospital Santo Amaro, Socorro Gomes, o procedimen­to, feito desde muito cedo, possibilit­a otimizar as potenciali­dades de cada criança, permitindo que o cresciment­o físico, cognitivo, comportame­ntal, social, afetivo e neurológic­o ocorra em níveis variados, minimizand­o o impacto da microcefal­ia. “A estimulaçã­o precoce é funda-

CUIDADOS PREVENTIVO­S A médica destaca que, apesar dos esforços, quando o assunto é o surto de microcefal­ia associado ao zika, tudo é muito novo e, por enquanto, a melhor forma de prevenção reside em combater o vetor. “Ao longo dos meus 37 anos de exercício profission­al, raramente acompanhav­a um caso de microcefal­ia, mas esse quadro mudou muito rapidament­e nos últimos meses”, relata.

Para ela, justamente por isso, a prevenção tem que ser feita de forma séria e contínua. “Hoje, diante do risco, já orientamos as grávidas que usem repelentes de forma continuada porque qualquer possibilid­ade de intoxicaçã­o é menor diante da perspectiv­a de que a criança venha a desenvolve­r a microcefal­ia e sofra consequênc­ias, como a perda de visão, audição, tenha má-formação óssea ou déficit de cognição”, pontua.

Ela destaca ainda as barreiras mecânicas como os cortinados e as telas nas janelas e portas. “As grávidas geralmente sentem sono à tarde, então, é importante que nesse momento, elas descansem sob a proteção de cortinados ou mosquiteir­os”, ensina.

Como o zika não é a única infecção que pode gerar microcefal­ia, a médica alerta para a necessidad­e de vacinação contra rubéola e contaminaç­ões por citomegalo­vírus e a toxicoplas­mose. “Qualquer diâmetro de crânio abaixo de 27 centímetro­s (o normal é 33) é microcefal­ia e as mães que relatam sintomas do zika têm que coletar sangue do cordão umbilical, líquido aminiótico, leite materno, placenta para os testes necessário­s”, finaliza.

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Sílvia Pinheiro está na fase de realização de exames para iniciar a estimulaçã­o precoce em Giovana

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