Correio da Bahia

Um americano reconta o Império

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O professor William Summerhill, da Universida­de da Califórnia, é um bruxo da pesquisa econômica. Em 1998 ele publicou um artigo sobre a construção de ferrovias até os primeiros anos da República e virou de cabeça para baixo a sabedoria convencion­al que envolvia o assunto. Elas foram um operação bem sucedida, fator de grande progresso. Summerhill está de novo nas l ivrarias americanas com “Inglorious revolution” (em tradução livre, “Uma revolução inglória - Instituiçõ­es políti- cas, dívida soberana e subdesenvo­lvimento financeiro no Brasil imperial”. Trabalho prodigioso de pesquisa, lida com um paradoxo: a teoria ensina que os países que honram suas dívidas progridem. Durante todo o Império, o Brasil honrou suas dívidas interna e externa e não progrediu. O crédito do Império em Londres era tão sólido que resistiu até a um rompimento de relações com a Inglaterra. Entre os muitos fatores do atraso, um está aí até hoje. O sistema de crédito era con- trolado pelo governo, mas a banca, concentrad­a e com poderosas conexões, controlava o governo. Os grandes fazendeiro­s do café conseguiam dinheiro a 8% ao ano. Na Bahia, a 12%. Em Minas e Pernambuco, até a 30%. O artigo das ferrovias, bem como “Order against progress” (“Ordem contra o Progresso”), o livro que resultou de sua expansão, publicado em 2003, não foram traduzidos para o português. Olavo Bilac tinha razão, o português, a última flor do Lácio, é esplendor e sepultura.

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