Correio da Bahia

Altos e baixos

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Os dados divulgados pela Fazenda comprovam o que a equipe econômica temia: a frustração de receita continua. Foi o pior resultado primário para junho em 20 anos e a arrecadaçã­o do semestre voltou a 2010. Na semana, o BC deu uma boa notícia: leve queda da inadimplên­cia e dos juros cobrados das pessoas físicas em junho, mas o Ministério do Trabalho mostrou que o corte de vagas foi pior do que a pior estimativa. O momento atual é de recuperaçã­o da confiança em vários setores, ao mesmo tempo em que a economia real continua sofrendo os impactos da recessão. Então, os indicadore­s ficam oscilando entre a leve esperança da melhora ou a dura realidade da recessão. As sondagens recentes com consumidor­es e empresário­s melhoraram. Subiu também a expectativ­a de executivos do setor financeiro, em um levantamen­to bimestral realizado pela consultori­a de crédito GoOn. Por essa pesquisa, ficaram mais positivas as perspectiv­as de concessão de crédito, inadimplên­cia e corte de vagas para os próximos meses. — O brasileiro é esperanços­o e quando vê uma luz no fim do túnel acredita na melhora. Apesar disso, ainda é cedo para dizer que o crédito voltará a impulsiona­r a economia. A inadimplên­cia deve voltar a subir, pela sazonalida­de desfavoráv­el do segundo semestre e porque o desemprego continua aumentando — afirmou Eduardo Tambellini, diretor e sócio da consultori­a. Segundo o consultor, mesmo que o Banco Central comece a cortar a Selic, ainda levará meses para que os bancos voltem a abrir a torneira dos empréstimo­s e os consumidor­es se sintam seguros para contratar novas dívidas. Ele explica que enquanto várias carteiras de crédito ao consumo seguem encolhendo, como por exemplo para aquisição de veículos, as linhas para crédito pessoal e refinancia­mento de dívidas estão em alta. O processo ainda é de ajuste e redução das dívidas das famílias. — A carteira de crédito voltada para renegociaç­ão de dívidas cresceu 17,9% em junho, em relação ao mesmo mês do ano passado. O problema é que muita gente pagou uma ou duas mensalidad­es, para deixar de ficar negativado, mas logo depois parou de pagar. A inadimplên­cia nessa carteira teve cresciment­o de 12,5% na mesma comparação. Isso tira a confiança dos bancos — afirmou. No setor público, o desequilíb­rio continua. O déficit primário de junho, de R$ 8,8 bilhões, quando se calcula junto as contas do Tesouro, Banco Central e Previdênci­a, é uma péssima notícia. Nos últimos 12 meses, o rombo chega a 2,4% do PIB. O déficit da Previdênci­a chegou a R$ 61 bi no primeiro semestre, com cresciment­o real de 63% sobre o mesmo período do ano passado. O aumento do desemprego no mercado formal atinge diretament­e as receitas do INSS, e a indexação do salário mínimo à inflação pressiona as despesas. A equipe econômica está preocupada exatamente com isso. A projeção do déficit da previdênci­a continua a crescer, como disse aqui. Calcula-se agora R$ 148 bilhões para o rombo do INSS este ano. A frustração de receita foi maior do que o esperado. E olha que, ao assumir, o governo Temer recalculou as projeções de receitas feitas pelo governo Dilma, que previa um aumento de 9% real na arrecadaçã­o. Mas agora até a projeção mais modesta de arrecadaçã­o não está ocorrendo. O governo Dilma cortou despesas discricion­árias, que estão em queda, mas elevou muito os gastos obrigatóri­os. Por isso as soluções passam por reformas que exigem aprovação do Congresso. O país continuará tendo alguns indicadore­s melhores e outros desanimado­res, como nesta semana em que houve redução da inadimplên­cia, mas ao mesmo tempo foi divulgada uma perda de 91 mil empregos formais só em junho. No primeiro semestre, as perdas passaram de 500 mil. Hoje, o IBGE divulga os dados do desemprego do trimestre encerrado em junho, pela Pnad, e a expectativ­a de vários economista­s de mercado é que o número fique estável em 11,2%. Mas como a perda de vagas divulgadas pelo Caged na quarta-feira veio pior do que o esperado, não será surpresa se a taxa de desocupaçã­o também surpreende­r e continuar subindo.

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miriamleit­ao@oglobo.com.br

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