PF aponta que reformas em sítio foram orientadas por Lula e Mariza
LAVA JATO Laudo elaborado por peritos da Polícia Federal (PF) revela indícios de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a mulher dele, Marisa Letícia, orientaram pessoalmente as reformas feitas em um sítio localizado em Atibaia, no interior paulista, e frequentado pela família do petista. Segundo informações da Folha de S.Paulo, os peritos concluíram que a primeira parte das reformas, tocada em novembro de 2010 e concluída em 2011, ficou a cargo da Odebrecht e foi supervisionada por um engenheiro da construtora, Frederico Barbosa, o mesmo que comandou as obras do estádio do Corinthians, o Itaquerão. Ainda de acordo com a Folha, a PF elaborou uma planilha reunindo as 19 reformas feitas no sítio, que custaram ao todo R$ 1,2 milhão. A mais barata foi a demolição de uma construção antiga, no valor de R$ 1,8 mil; a mais cara, a instalação da cozinha gourmet, com custo estimado em R$ 252 mil. Ao analisar as obras na cozinha do sítio, o laudo da PF indica que a “execução foi coordenada por arquiteto da empreiteira OAS, sr. Paulo Gordilho, com conhecimento do presidente da OAS, Léo Pinheiro, e com orientação do ex-presidente Lula e sua esposa, conforme identificado nas comunicações do arquiteto da empreiteira e de Fernando Bittar (amigo de Lula e que figura como dono da propriedade)”. O laudo reproduz ainda mensagens de texto trocadas entre Léo Pinheiro e Gordilho, que se refere ao sítio como sendo a “fazenda do Lula” e diz que o assunto deve ser tratado com “sigilo absoluto”. “Amanhã vou em um churrasco em Atibaia com o Léo (Pinheiro) na fazenda do Lula e vamos encontrar com ele na estrada e vou passar o dia com ele e dona Mariza”, diz o arquiteto da OAS, em comunicação interceptada pelos investigadores. Em outra mensagem, disse a Folha, Gordilho diz que “ele (Lula) quer uma coisa e Mariza outra. Lá vai eu e Léo dar opinião”. As mensagens indicam que as despesas de compra e instalação da cozinha no sítio e em um triplex em Guarujá, litoral paulista, foram lançadas em um centro de custos da OAS denominado “Zeca Pagodinho”. A assessoria do ex-presidente disse que só iria se manifestar após ter conhecimento sobre o conteúdo do laudo. Ontem, Lula apresentou ao Comitê de Direitos Humanos da ONU denúncia contra o Estado brasileiro para tentar barrar ações que considera como “abuso de poder” do juiz Sérgio Moro e dos procuradores da Operação Lava Jato. O pedido tem como base a Convenção Internacional de Direitos Políticos. OPERAÇÃO SAQUEADOR O bicheiro Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso novamente na manhã de ontem pela Polícia Federal no Rio de Janeiro, por ordem do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). Cachoeira e mais outros três acusados pela Operação Saqueador foram levados para o presídio de Água Santa, na zona norte do Rio. No fim da tarde, o dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, também foi preso pela PF em sua casa no Leblon, zona sul da capital. Segundo a PF, Cavendish passará pelo Instituto Médico Legal antes de dar entrada no presídio. Cachoeira e Cavendish tinham sido presos por supostos desvios de recursos de obras públicas, mas tinham deixado o presídio Bangu 8 no último dia 11, após conseguirem direito à prisão domiciliar. Os dois, o executivo da Delta Cláudio Abreu e os empresários Adir Assad e Marcelo Abbud são acusados de envolvimento em um esquema de lavagem de dinheiro estimado em cerca de R$ 370 milhões. A decisão do tribunal de prender os cinco acusados restabeleceu a ordem do juiz federal Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, que determinava o cumprimento da prisão preventiva em regime fechado. Durante a sessão, anteontem, o presidente do TRF-2, o desembargador Paulo Espírito Santo, disse que “o país não suporta mais a corrupção, a impunidade, e não botar na cadeia os mais ricos”. Antes, o relator do caso, desembargador Abel Gomes, já tinha votado pela volta dos suspeitos à prisão. O último desembargador a se pronunciar, André Fontes, acompanhou o voto dos dois colegas. O advogado de Cachoeira, Cleber Lopes, disse que iria recorrer ao STJ.